DILEMA DE ÊUTIFRON
Dilema apresentado pela primeira vez por Platão no diálogo Êutifron. Este dilema proporciona um argumento poderoso contra a teoria dos mandamentos divinos. Podemos introduzi-lo através desta pergunta, onde x é um acto como matar, roubar ou mentir: x é errado porque Deus julga que x é errado, ou Deus julga que x é errado porque x é errado? Se optarmos pela segunda hipótese, temos de rejeitar a teoria dos mandamentos divinos, porque estamos a presumir, afinal, que certas coisas são erradas independentemente do que Deus pensa sobre elas. Se optarmos pela primeira hipótese, temos de concluir que, se Deus considerasse bom fazer coisas como matar, roubar ou mentir, então seria bom fazer essas coisas.
Pedro Galvão, «Dilema de Êutifron», in. Dicionário Escolar de Filosofia, Org. Aires Almeida, Ed Plátano, CEF-SPF, p.51 (o artigo, apesar de curto, foi reduzido para publicação no Blog)
PLATÃO - ÊUTIFRON
Sócrates – Então, a piedade é amada pelos deuses, porque é piedade, ou é piedade, porque é amada pelos deuses?
(…)
Sócrates – O que eu quero dizer é isto: se alguma coisa age ou é afectada, não é por ser agente que ela age, mas é porque age que ela é agente; nem é por ser uma coisa afectada que ela é afectada, mas é porque é afectada que ela é uma coisa afectada. Concordas com isto?
Êutifron – Concordo.
Sócrates – Então, o que é amado, ou age sobre algo, ou é afectado por algo?
Êutifron – Decerto.
Sócrates – Portanto é como anteriormente: não é por ser uma coisa amada que uma coisa é amada pelos que a amam, mas é porque a amam que ela é uma coisa que é amada.
Platão, Êutifron, INCM, p. 44-45 10-b, 10-c