PARA ACABAR DE VEZ COM A CULTURA
Para acabar de vez com a cultura
Vivemos tempos confusos. Ou talvez não. À propagada e eterna crise económica e ao atraso crónico deste país face à média europeia, juntam-se outros factores estruturais de atraso. Alguns desses factores são, consequência ainda, das décadas de obscurantismo cultural e de mentalidades fomentado pelo Estado Novo salazarista. Em Portugal continua instalada uma cultura - na sua acepção mais lata - displicente, indigente e boçal que é preciso enumerar (para erradicar de vez):
- A cultura do comodismo e da ignorância, porque oblitera o espírito crítico e anestesia o exercício da cidadania.
- A cultura do consumismo efémero e massificado, porque cega o discernimento da realidade dos factos.
- A cultura da alienação televisiva, da novela/reality show pós-noticiário da TV e dos chinelos calçados, porque embrutece o gosto estético e louva a letargia mental.
- A cultura exageradamente hedonista e desbragada das massas estudantis, porque asselvaja a formação do cidadão.
- A cultura da maledicência: dizer mal por dizer mal só leva a um lado: à ignorância.
- A cultura da “formatação radiofónica” generalizada que subverte o conceito de serviço público e estupidifica as massas.
- A cultura do desprezo pelo êxito artístico de outrem, porque revela esse sentimento tipicamente português: a inveja.
- A cultura da intolerância e/ou menosprezo face a modelos sociais, culturais e artísticos diferentes e alternativos.
- A cultura da informação televisiva como espectáculo insano e mediatizado, porque trata o espectador como imbecil e mentalmente domesticável.
- A cultura desproporcional e eufórica que os media dedicam ao futebol, porque distrai a atenção e a análise séria das coisas realmente importantes da sociedade e da vida.
- A cultura desmedida e infecto-contagiosa da bandeira pela causa futebolística em detrimento da mobilização social para as grandes causas do país.
- A cultura do aproveitamento propagandístico e publicitário em redor da Selecção Nacional (bancos, batatas-fritas, detergentes, cervejas, seguros, autarquias, gelados, electrodomésticos, iogurtes…) esse desígnio irrepreensível do qual parece depender o futuro do país.
- A cultura da “carneirada” e do mimetismo cultural: se todos lêem o “Código Da Vinci”, eu também tenho de ler; se todos vêem o “Crime do Padre Amaro”, eu também tenho de ver; se todos vão ao Rock in Rio, eu também vou; se todos compram um modelo I-Pod da última geração, eu também compro.
- A cultura exponencial do entretenimento digital (Internet, videojogos, telemóvel, I-Pod, gadget electrónicos, Playstation).
- A cultura das pseudo-elites culturais e intelectuais tugas e suas inúteis diatribes intestinas.
- A cultura dos livros “pop-light” portugueses e da massificação aterradora dos sub-produtos (de aproveitamento comercial) do fenómeno Dan Brown.
- A cultura patética dos records nacionais para o Guiness: somos os melhores do mundo nas coisas mais fúteis - a maior feijoada, a maior bandeira, a maior tarte, a bicicleta mais comprida, o maior Bolo Rei…
- A cultura dos neo-liberais e da burguesia instalada, do imberbe jet-set, do relógio Rolex, da “Caras” debaixo do braço, do plasma na sala de jantar, das “festas sociais”, das férias no Brasil, e das opiniões saloias-sobranceiras sobre tudo e sobre nada.
- A cultura da imagem: para vingar pessoal e profissionalmente, exige-se beleza top-model, roupa fashion de costureiros, visual sofisticado, postura “yuppie” ou “blasé”, em conformidade com os modelos copiados da televisão e do cinema.
- A cultura da fama fácil, imediatista e mediática incrementada junto dos adolescentes: imposição do paradigma insidioso “morangos com açúcar” em toda uma geração.
- A cultura do “facilitismo” e do “trabalhar para a estatística”: no sistema de ensino, na política, no consumo cultural, na função pública, na vida social…
- A cultura do primado economicista em detrimento dos valores mobilizadores da sociedade: a educação, o investimento, a qualificação/profissionalização, a formação, a cultura.
- A cultura da iliteracia galopante dos jovens, adultos e idosos e consequente ausência de competências e qualificações mínimas para a exigência da vida profissional, social e cultural contemporânea.
- A cultura alarve dos pacotes de pipocas tamanho XXL e respectiva Coca-Cola nas salas de cinema.
- A cultura do fato de treino como indumentária oficial das famílias passeantes no shopping nos fins-de-semana.
- (...)
Victor Afonso
- A cultura do comodismo e da ignorância, porque oblitera o espírito crítico e anestesia o exercício da cidadania.
- A cultura do consumismo efémero e massificado, porque cega o discernimento da realidade dos factos.
- A cultura da alienação televisiva, da novela/reality show pós-noticiário da TV e dos chinelos calçados, porque embrutece o gosto estético e louva a letargia mental.
- A cultura exageradamente hedonista e desbragada das massas estudantis, porque asselvaja a formação do cidadão.
- A cultura da maledicência: dizer mal por dizer mal só leva a um lado: à ignorância.
- A cultura da “formatação radiofónica” generalizada que subverte o conceito de serviço público e estupidifica as massas.
- A cultura do desprezo pelo êxito artístico de outrem, porque revela esse sentimento tipicamente português: a inveja.
- A cultura da intolerância e/ou menosprezo face a modelos sociais, culturais e artísticos diferentes e alternativos.
- A cultura da informação televisiva como espectáculo insano e mediatizado, porque trata o espectador como imbecil e mentalmente domesticável.
- A cultura desproporcional e eufórica que os media dedicam ao futebol, porque distrai a atenção e a análise séria das coisas realmente importantes da sociedade e da vida.
- A cultura desmedida e infecto-contagiosa da bandeira pela causa futebolística em detrimento da mobilização social para as grandes causas do país.
- A cultura do aproveitamento propagandístico e publicitário em redor da Selecção Nacional (bancos, batatas-fritas, detergentes, cervejas, seguros, autarquias, gelados, electrodomésticos, iogurtes…) esse desígnio irrepreensível do qual parece depender o futuro do país.
- A cultura da “carneirada” e do mimetismo cultural: se todos lêem o “Código Da Vinci”, eu também tenho de ler; se todos vêem o “Crime do Padre Amaro”, eu também tenho de ver; se todos vão ao Rock in Rio, eu também vou; se todos compram um modelo I-Pod da última geração, eu também compro.
- A cultura exponencial do entretenimento digital (Internet, videojogos, telemóvel, I-Pod, gadget electrónicos, Playstation).
- A cultura das pseudo-elites culturais e intelectuais tugas e suas inúteis diatribes intestinas.
- A cultura dos livros “pop-light” portugueses e da massificação aterradora dos sub-produtos (de aproveitamento comercial) do fenómeno Dan Brown.
- A cultura patética dos records nacionais para o Guiness: somos os melhores do mundo nas coisas mais fúteis - a maior feijoada, a maior bandeira, a maior tarte, a bicicleta mais comprida, o maior Bolo Rei…
- A cultura dos neo-liberais e da burguesia instalada, do imberbe jet-set, do relógio Rolex, da “Caras” debaixo do braço, do plasma na sala de jantar, das “festas sociais”, das férias no Brasil, e das opiniões saloias-sobranceiras sobre tudo e sobre nada.
- A cultura da imagem: para vingar pessoal e profissionalmente, exige-se beleza top-model, roupa fashion de costureiros, visual sofisticado, postura “yuppie” ou “blasé”, em conformidade com os modelos copiados da televisão e do cinema.
- A cultura da fama fácil, imediatista e mediática incrementada junto dos adolescentes: imposição do paradigma insidioso “morangos com açúcar” em toda uma geração.
- A cultura do “facilitismo” e do “trabalhar para a estatística”: no sistema de ensino, na política, no consumo cultural, na função pública, na vida social…
- A cultura do primado economicista em detrimento dos valores mobilizadores da sociedade: a educação, o investimento, a qualificação/profissionalização, a formação, a cultura.
- A cultura da iliteracia galopante dos jovens, adultos e idosos e consequente ausência de competências e qualificações mínimas para a exigência da vida profissional, social e cultural contemporânea.
- A cultura alarve dos pacotes de pipocas tamanho XXL e respectiva Coca-Cola nas salas de cinema.
- A cultura do fato de treino como indumentária oficial das famílias passeantes no shopping nos fins-de-semana.
- (...)
Victor Afonso