Os perigos do pensamento mágico e pseudociência
A pseudociência é mais fácil de forjar do que a ciência, pois os confrontos com a realidade – quando não podemos controlar o desfecho da comparação – são mais fáceis de evitar. Os padrões da argumentação, que passam por provas, são muito menos rígidos. Em parte pelas mesmas razões, é muito mais fácil apresentar a pseudociência ao público comum do que a ciência. Mas isto não basta para explicar a sua popularidade.
É natural que as pessoas experimentem vários sistemas de crença para verem o que mais convém para as ajudar. E, se estivermos muito desesperados, dispomo-nos a abandonar o que pode ser considerado o fardo pesado do cepticismo. A pseudociência dirige-se a necessidades emocionais fortíssimas que a ciência muitas vezes deixa sem resposta. Fornece fantasias sobre poderes pessoais que não temos e que desejamos possuir (como os que, nos nossos dias, são atribuídos aos super heróis das histórias aos quadradinhos e antigamente eram atribuídos aos deuses). Em algumas das suas manifestações oferece a satisfação da fome espiritual, curas para doenças, promessas de que a morte não é o fim. Tranquiliza-nos, garantindo que ocupamos um lugar central e importante no cosmo. Assegura-nos de que estamos indissoluvelmente ligados ao universo. Por vezes é uma espécie de albergue a meio caminho entre a antiga religião e a nova ciência, olhada por ambas com desconfiança.
Carl Sagan, Um mundo infestado de demónios, Gradiva, 2002, p.29