O blog Estágio de Intervenção Sócio Cultural de Domingos Faria, publicou um interessante inquérito aplicado a alunos do ensino secundário sobre a importância da filosofia. A amostra é significativa. Só não subscrevo que a situação menos boa da filosofia no ensino seja:
a) Exclusiva da filosofia, já que não vejo que algo melhor se passe com outras disciplinas, ainda que poucas, como a matemática, história ou português gozem de maior prestígio social o que impede que aconteça algo menos bom que é pura e simplesmente serem extintas do ensino, pelo menos como formação geral.
b) Da exclusiva responsabilidade do ministério da educação. Esta responsabilidade também cabe aos profissionais da filosofia nomeadamente quando pensam em programas deficientes (veja-se o exemplo da balda do programa no 12º ano que acabou a matar a disciplina) e quando elaboram manuais com erros elementares e também a uma boa parte do sector universitário que vive de costas voltadas para o ensino da filosofia.
Proponho aqui uma pequena troca de ideias no sentido de tornar mais ampla e pública a discussão profissional das avaliações, uma vez que esta semana decorre em quase todas as escolas do país as avaliações de final de 1º período. É frequente nesta época ouvir dizer pela grande maioria dos professores que os alunos possuem muitas dificuldades em termos de conhecimentos. E eu subscrevo por inteiro essa opinião. Na verdade cada vez mais os alunos chegam ao ensino secundário com imensas ausências de conhecimentos básicos, tanto do ponto de vista científico, como no domínio da língua mãe ou no desembaraço do raciocínio, revelando dificuldades em organizar um pensamento consistente e claro. O que eu não compreendo, como profissional do ensino e não me sinto à vontade com esta situação, é que, as constatações destas dificuldades são em número muito maior que o de alunos que acabam por chumbar de ano. Na verdade a maioria dos alunos passa de ano no final. Ora por que razão não me sinto bem com esta situação? Porque parece que estou a compactuar com uma fantasia, uma aldrabice que prego a mim mesmo. Os alunos tem realmente muitas dificuldades, aprendem pouco, mas, no final, quase todos transitam. Temos então aqui dois problemas:
Há uns tempos andava em busca de uma ferramenta que me permitisse, qual canivete suíço, armazenar todos os dados respeitantes aos alunos e à escola. Descobri que a oferta é quase inexistente. O único programa que encontrei trata-se de uma aplicação simples em termos de requisitos informáticos, mas também com um preço relativamente acessível. Adquiri esta aplicação no início do ano lectivo e fui testando algumas das suas capacidades. Confesso que tenho tido algumas dificuldades em operacionalizar algumas tarefas, muito embora reconheço que o programa está bem conseguido e bem concebido. No Regiprof podemos registar as grelhas de correcção de testes, bem como avaliar todos os parâmetros de cada disciplina. O programa oferece ainda a possibilidade de um registo online para publicação de classificações e outros dados de interesse escolar. Ainda há, claramente, melhorias a fazer e exige-se um cuidado maior para tornar o programa mais acessível no seu uso, ainda assim é uma boa ferramenta auxiliar de registo e gestão da actividade docente. Existe no site do programa (clicar na imagem) uma versão demo disponível para quem estiver interessado numa ferramenta como esta. Trago-o sempre disponível na pendrive e tem-se revelado uma ferramenta diária.
Há adultos que também são criacionistas: de acordo com a explicação natural do sobrenatural, não terão crescido o suficiente… Uma crença muito difundida é a de que todo o universo teria sido criado, mais ou menos como é hoje, por intervenção divina, num «acto único» ou quase único. Nos Estados Unidos, há quem queira equiparar essa crença criacionista – que aparece sob o nome de «design inteligente» - a uma teoria científica, chegando ao cúmulo de a querer incluir nas aulas de ciências, como alternativa ao evolucionismo. Quem quer isso não apenas está a recusar a ciência como, pior, pretende instaurar uma perigosa sociedade teocrática.
Ultimamente tenho andado muito desorganizado nas leituras. Ocasionalmente isto ocorre, precisamente quando compro mais livros ao mesmo tempo. Começo a lê-los quase todos ao mesmo tempo e acabo a abandonar dois ou três nunca mais lhe pegando. Os mais desafiantes são sempre os de filosofia, também os mais difíceis de ler, pelo menos para mim. Os outros, divulgação científica, são livros maravilhosos de permanente descoberta, mas encaro-os muito como informativos. E de literatura já não falo já que não lhe pego há uns tempos. Esta semana comprei o título mais recente da colecção da Gradiva Temas da Matemática, Aritmética para pais, um livro para adultos sobre a matemática das crianças de Ron Aharoni. O miolo do livro é perfeitamente adaptável à filosofia e a todas as disciplinas do sistema de ensino em Portugal. A história é simples e verdadeira: o autor trocou uma carreira empresarial pelo ensino da matemática a crianças. Mesmo contra a resistência de muitos chegados, avançou com a ideia de ingressar no ensino. Só que as dificuldades surgidas constituíram um desafio muito cativante e Ron Aharoni percebeu que podia aprender muita matemática entrando no mundo dos miúdos. Mas afinal qual o miolo transversal da obra? È que o autor começou a sua carreira como professor das crianças encetando uma série de estratégias pedagógicas e acabou por perceber que transformou o ensino numa grande bagunça. O ensino começou a resultar precisamente quando se concentrou nos conteúdos, na própria matemática e esqueceu as pedagogias. A matemática tem todos os alicerces necessários para poder ser ensinada, principalmente aos mais carenciados, ao contrário do que se pensa, por exemplo, no sistema educativo português, inclusive pensamento de muitos professores. E esta é talvez a grande lição a tirar para os professores que se dediquem à leitira deste livro encantador. No resto temos aqui um belíssimo manual de como ensinar bem matemática sem ter de fugir da matemática. Na filosofia o que temos mais aproximado em língua portuguesa são os livros da Filosofia Aberta de Thomas Nagel e Nigel Warburton. Para professores temos o livro de Desidério Murcho de que aqui já falei várias vezes.
Hoje de manhã comprei este livro. Passei-o à frente dos outros que se vão acumulando e iniciei a leitura. Já me tinham sugerido este autor como um dos melhores divulgadores de ciência. Eu conhecia apenas por artigos dispersos, mas é na verdade uma leitura muito, mas muito sedutora. Vou apenas na 1ª parte do livro e deve ser interrompido para continuar outras leituras, mas já deu para perceber que estou perante um potente livro de divulgação científica de um autor com um background que se estende muito para além da ciência. Uma pequena parte do livro pode ser apreciada aqui.