Recentemente Vitor Guerreiro traduziu para a Crítica um capítulo do livro de E. J. Lowe, the possibility of metaphisics. Lowe é talvez um dos mais interessantes filósofos da actualidade na reforma da metafísica enquanto área central da filosofia. Neste texto, que exige alguns pré conhecimentos, o autor procura desmontar algumas correntes anti metafísicas, recuperando o projecto tradicional da metafísica. Seria muito interessante ter este livro com tradução integral para português, já que não temos qualquer livro traduzido ou de autor que seja uma boa introdução à metafísica, apesar que esta não parece ser uma das introduções mais acessíveis, pelo menos para um público não formado ou em formação na filosofia.
Para quem visita este blog, mas não visita o Rerum Natura, vale a pena ler o interessante texto de Palmira Silva, cujo mote é a censura por parte de grupos cristãos a um espectáculo dos catalães La Fura Dels Baus. A referência aqui ao texto indicado vem a propósito que Dalai Lama é um autor muito citado em maus manuais de filosoia portugueses, na maior parte dos casos, em substituição dos filósofos e apresentado não só como filósofo, mas também como modelo de excelência. Em caso algum deveria o Dalai Lama substituir filósofos com trabalho sério, mas sendo como indica o texto, a coisa torna-se ainda mais gravosa. Este post parece dramático? Dramático é abrir um livro de filosofia e aprender catequese em vez de filosofia.
Sempre gostei dos livros de Fernando Savater. É talvez o espanhol que mais se empenha na divulgação da filosofia junto de um público mais amplo. E fá-lo com sabedoria, bom humor e rigor, que é o que mais se deseja. Tenho uma série de livros dele, tanto em traduções como originais e reservo-lhes um carinho especial talvez porque Savater, apesar de não ser um filósofo da mais alta gama, é um filósofo que se empenha e muito para divulgar a filosofia e isso vale, por vezes, muito mais do que meia dúzia de bons filósofos. E isto porque não concebo a ideia de que haja bons filósofos sem bons divulgadores de filosofia. Além do mais um bom divulgador da filosofia não é um fulano que vende um produto e o publicita. È um filósofo que fala de modo não técnico para pessoas comuns compreenderem problemas complexos. Ao ler recentemente um livro que comprei há já uns anos, deparo-me com um excelente artigo sobre os problemas que afectavam a filosofia no ensino escolar em Espanha. Devíamos aprender com os erros, apesar que, pelo menos por cá e actualmente a realidade é um pouco mais grave. O esvaziamento das matérias nos programas de ensino não é um problema que afecte só a filosofia. A matemática, a história, o ensino da língua não andam melhor. Em muitos casos, como o da língua portuguesa andam até bem pior. O problema é que a filosofia é uma disciplina do desconhecimento geral do público e, por essa razão, por muitos considerada dispensável. Quem melhor que nós, da filosofia, para mostrar que as pessoas que assim pensam estão erradas?
"A filosofia refere-se à actividade central dos seres humanos enquanto tal e, portanto, nenhuma educação pode evitá-la, nem sequer ensiná-la como uma tarefa empreendida por outros e que pode ser admirada com a participação do educando. A história da filosofia é já filosofia, actividade filosófica ou torna-se incompreensível; mas a filosofia não pode provir da mera história, tendo antes de converter-se me biografia de quem se aproxima dela, sob pena de se reduzir a um pedantismo ocioso e artificial, isto é, a um repertório de respeitáveis tecnicismos. Aliás, é esse pedantismo o culpado, em boa medida, da secundarização actual da disciplina de filosofia nos currículos escolares."
Fernando Savater, Livre Mente, Relógio D`Água, trad de Ana Mafalda Tello, 2000
Recentemente Desidério Murcho, no Rerum Natura, referiu-se ao problema do aquecimento global do planeta (ver aqui e aqui). O melhor filósofo traduzido para a língua portuguesa que melhor pensa esse problema bioético é Peter Singer. Vale a pena recordar os títulos traduzidos.
A revista de filosofia Crítica acaba de criar o seu blog. Segundo as palavras do director da revista, Desidério MUrcho, "Este espaço serve sobretudo para divulgar notícias e ideias, e para estimular a discussão. Não se pretende uma discussão superficial, mas algo mais articulado e sofisticado do que é comum nos blogs" e, acrescento eu, o blog é a oportunidade dos leitores discutirem os textos que a Crítica vai publicando. A não perder! Clicar na imagem para aceder ao blog.
Até o mendigo de rua se preocupa com a distribuição da riqueza. Com frequência encontramos pessoas que discutem questões como o aborto, eutanásia, etc. Cada vez menos raro observamos pais que se questionam sobre a moralidade na mentira sobre a existência do pai natal. Um número crescente de pessoas preocupam-se com a produção industrial de alimentos e os perigos que isso acarreta para a saúde e ambiente, bem como para o sofrimento dos animais. Desde sempre as pessoas adquirem dogmas face à existência de deus e à finitude e discutem ocasionalmente esses dogmas. E hoje em dia também é cada vez menos raro encontrar gente preocupada com as consequências menos positivas desencadeadas pelo progresso tecnológico e científico. O que as pessoas não sabem é que a estrutura base destas questões foram já discutidas pelos filósofos. Estes são problemas para os quais não há experiência possível que nos possibilite respostas conclusivas. São problemas que discutimos e argumentamos. São problemas da vida das pessoas que podem ser discutidos com maior ou menor sofisticação. Essa é uma das razões pelas quais a filosofia é ensinada como formação geral nos currículos escolares portugueses. Precisamente para preparar os indivíduos com as ferramentas que permitem discutir organizadamente estes problemas.
Continuando com a ideia tola de que no verão ficamos todos um bocado estúpidos, seguem mais duas recomendações para levar para a praia ou simplesmente para a esplanada mais próxima. Uma delas chegou-me à caixa de correio uma vez que sou assinante. A outra encontrei-a num quiosque da cidade, apesar de já conhecer o site da revista. São elas a Philosophy Now, nº 68, de Julho e Agosto de 2008 e a outra a brasileira Filosofia, nº 15, ano II, 2007 (será que chega cá com um ano de atraso???). Como uma revista tem de ser apelativa, um breve comentário para o aspecto gráfico: a Filosofia bate com facilidade a Philosophy Now. Tem uma qualidade gráfica que recorre às mais modernas técnicas e quase nem percebemos no quiosque que se trata de uma revista de filosofia, não fosse a palavra estampada no topo. Em termos de qualidade dos textos já não me parece que a Filosofia consiga estar ao mesmo nível que a Philosophy Now muito embora não ande muito distante. Já sabemos que o meio académico inglês é mais rico que o brasileiro pelo que se justifica aí alguma disparidade, mas se a philosophy now tem alguns artigos de fundo de maior exploração, é ainda assim uma revista de divulgação e, nesse sentido, creio que a Filosofia acaba a ganhar alguns pontos.
Foi publicada recentemente na revista Crítica, a tradução que Vitor Guerreiro fez para a introdução do livro de Paul Edwards, Heidegger`s confusions. Não conheço o livro na integra pelo que aqui vou só fazer um breve apontamento ao que sugere a introdução. A introdução sugere que, ao contrário do que muita boa gente tem pensado em muitos círculos académicos, Heidegger nem é um pensador original nem é o maior impulsionador no século xx ao progresso do pensamento filosófico. Desde já assumo a minha posição de que Heidegger não possui o menor interesse e relevância para a filosofia, nem lhe reconheço qualquer estatuto de maior pensador do século xx. Não gosto dos textos de Heidegger, penso que estão imbuídos em contradições e linguagem obscura. Basicamente Heidegger nunca me estimulou a pensar filosoficamente pelo que o seu contributo para a minha formação é muito vago, ainda que tivesse de levar com o filósofo durante toda a licenciatura e muitas das vezes só servisse para menorizar uns em relação a outros, os que dominavam o alemão no original e os que seguiam as traduções. Nunca alcancei bons resultados quando fiz exames nos quais se questionasse sobre a filosofia de Heidegger.
A chegada do verão dificilmente deixará alguém a estudar lógica. Eu próprio faço sempre projectos para aprofundar os meus conhecimentos na matéria, mas vão sendo sucessivamente adiados. Ainda assim uma boa solução é ter boa bibliografia à mão. Com bons livros por perto podemos usá-los como enciclopédias de lógica e recorrermos a eles sempre que nos surjam duvidas. E, assim, quase por acidente, estamos sempre a estudar lógica, revendo sempre os nossos argumentos e os argumentos que estamos a ler. Deixo aqui um pequeno lote de livros que me tem ajudado a estudar lógica, formal e informal. Após algumas tentativas e erros ao comprar bibliografia de lógica, esta é a melhor que possuo e conheço no momento, se bem que há outras. E citarei somente introduções à lógica e não estudos específicos.