A chamada filosofia analítica ou anglo saxonica ou o que se lhe queira chamar (eu prefiro chamar de filosofia tal qual hoje se faz) não é uma opção que tenhamos entre as mãos entre outras iguais, cabendo-nos optar que conversa filosófica queremos manter. É certo que é filosofia que se faz com modelos que as universidades portuguesas ignoram voltando a imagem pública da filosofia a uma caricatura decadente. Fiz uma consulta pela internet das melhores universidades do mundo, nas quais, se estuda a tal filosofia que em portugal se classifica como analítica. A lista que aparece na Wikipedia traduz razoavelmente a tendência de todas as listas que consultei. Agora, basta ver no site de Harvard que filosofia se estuda por lá e, já agora, contar quantas universidades alemãs e francesas entram nas listas. Fica aqui o Link.
Quando leccionamos lógica no 11º ano, de uma forma elementar começamos por dizer aos alunos que a lógica melhora a capacidade para raciocinar. Podemos estar a lidar com uma situação embaraçosa ao fornecermos uma explicação destas aos alunos. Bem, de uma forma ampla, a explicação parece-me correcta. Acontece que a formação dos estudantes ainda adolescentes condiciona-os a uma interpretação literal do que estamos a dizer. Assim, um estudante rapidamente pensa que depois de estudar lógica vai raciocinar com mais correcção, mas a realidade quotidiana, na maior parte das vezes, demonstra algo mais dramático, que nem sempre raciocinamos melhor por saber mais lógica. Isto pode ser decepcionante. A nossa tarefa como professores é mostrar-lhes o contrário. O livro de W. H. Newton-Smith, lógica, um curso introdutório, Gradiva, tem um pequeno mas interessante sub capítulo que nos ajuda, aos professores de filosofia, a lidar um pouco melhor com este embaraço (p.25). O autor compara – e bem – o que se passa com a lógica com o que se passa com a linguística. De um modo intuitivo sabemos distinguir muito bem as frases que obedecem a regras daquelas que não obedecem.
Finalmente estou menos só na crítica pública de manuais. Paulo Ruas assina uma análise muito precisa ao manual, Um Outro Olhar Sobre o Mundo, Asa, 2008, na revista Crítica Na Rede. Estas análises são necessárias, pois são elas que nos ajudam a limar as arestas na nossa disciplina e a dissipar fantasmas e preconceitos em relação aos manuais. As análises são boas quando estão isentas de ideologia. Espero que, desta vez, ao autor, se discutam os erros, as imprecisões que a sua análise possa conter e não tanto aspectos que se relacionam com o insulto gratuito e reaccionarismo pouco próprio de bons profissionais, como algumas vezes vi aqui acontecer. Venham mais análises.
Estes são os manuais que temos adoptados na nossa escola. Esperamos que as nossas opções sejam as mais adequadas para os nossos alunos e para um bom ensino da filosofia.
Por esta altura as escolas já têm as suas adopções prontas. O convite que desta vez dirijo aos colegas é bastante simples, mas muito útil para o trabalho que todos fazemos. Convido todos os colegas que quiserem a escrever um pequeno texto para ser aqui publicado a explicar as razões que os levaram a optar por um manual e não por outros. Trata-se de um trabalho pedagógico e muito útil visto que nem sempre estamos a par das razões uns dos outros para as adopções. Esta é também uma forma de abertamente partilharmos as nossas convicções de forma justificada. Agradeço antecipadamente a colaboração de todos.
Tenho pensado no que irei fazer ao futuro do blog, A FES. Inicialmente a ideia era a de passar a um site mais profissional. A vantagem do site em relação ao blog é a arrumação. Mesmo que muita gente defenda o contrário, acho que o site arruma melhor os textos em diferentes prateleiras. Acontece que o site é pago (apesar de existirem já alternativas gratuitas) e o blog não. Mas já descobri uma forma de pagar o futuro site, que é colocando publicidade da Google. Uma das formas de ajudar o FES é clicar no quadradinho da publicidade.
Os nossos colegas espanhóis não tem guerras de manuais sintéticos e analíticos. Já sabem na pele o preço da factura das filosofias da treta. Nós caminhamos para lá, podemos até aproveitar o cartaz! É só traduzi-lo. Esperemos não precisar dele daqui a uns anos. Esperemos mesmo.
Peter Singer tem um texto, incluído tanto em ética prática (Gradiva), como em Escritos sobre ética (D. Quixote) que se chama, “Ser silenciado na Alemanha”. Neste texto o filósofo australiano e professor de Princeton, uma das maiores e prestigiadas universidades americanas, relata os acontecimentos numa das suas idas à Alemanha, quando do público lhe saltaram radicais defensores dos direitos dos deficientes e lhe partiram os óculos em pleno palco. Inicialmente Singer ficou atónito com tal reacção, mas no seu texto explica um dado muito curioso, que os fulanos que fizeram tal investida nunca o tinham lido. Ora, se há filósofo que se bate pelos direitos morais dos deficientes é precisamente Singer, mas somente porque o filósofo defende que não existe problema moral na eutanásia, foi interpretado literalmente com a força dos preconceitos hitlerianos. Uma das praças mais bonitas que vi em cidades que vou conhecendo é a Plaza Mayor em Salamanca, Espanha. Essa praça tem à volta uma série de bustos de personalidades da cultura de Espanha, desde Cervantes a Franco.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Blog de divulgação da filosofia e do seu ensino no sistema de ensino português. O blog pretende constituir uma pequena introdução à filosofia e aos seus problemas, divulgando livros e iniciativas relacionadas com a filosofia e recorrendo a uma linguagem pouco técnica, simples e despretensiosa mas rigorosa.