Terça-feira, 30 de Outubro de 2007
Procurou-se fazer desta edição em português um auxiliar para os leitores de língua portuguesa, em particular os estudantes. Como a generalidade da bibliografia filosófica existente é em língua inglesa, e não portuguesa, este dicionário seria de pouco valor sem um glossário inglês-português, que por isso compilei e incluí, com a autorização do autor. O estudante que se depara com a expressão «principle of acquaintance», sem saber em particular como traduzir «acquaintance», teria dificuldade em usar o dicionário sem o glossário.
Do prefácio à edição portuguesa. Desidério Murcho, 1997
Serve também esta informação para lembrar que a Fnac apresenta esta obra ainda disponível, apesar de esgotada no editor. (comprar Fnac).
Simon Blackburn, Dicionário Oxford de Filosofia, Gradiva, 1996, Colecção Filosofia Aberta
Sexta-feira, 26 de Outubro de 2007
Todos nós damos valor às nossas crenças. Quando surge alguém que põe em causa as nossas crenças por não terem fundamentação suficiente – ou que, como Sócrates, se limita a pôr questões embaraçosas sobre as quais não tínhamos pensado, ou demonstra que varremos pressupostos subjacentes cruciais para debaixo do tapete -, isso ultrapassa a simples busca do conhecimento. É sentido como um ataque pessoal
Carl Sagan, Um mundo infestado de demónios, Gradiva, p.300
Quinta-feira, 25 de Outubro de 2007

No artigo recente que publiquei sobre a proposta do manual de filosofia Pensar Azul para trabalhar a partir do filme da Formiza Z, surgiram alguns comentários, bem como mails pessoais que leitores me enviaram e que merecem aqui uma explicação. Antes disso gostaria de dizer que, por regra, quando publico um texto a defender a tese x ou y sobre determinado problema da filosofia, raramente recebo comentários ou mails, mas quando se trata de colocar em causa determinada opção do manual x ou y, eis que enfrento um verdadeiro batalhão de mensagens, o que prova que as questões editoriais e, porventura, pedagógicas estão no centro de atenção dos meus leitores.
Rolando Almeida
Quarta-feira, 24 de Outubro de 2007
O livro de Ulrich Beck e Edgar Grande, Das kosmopolitische Europa, que a tradução francesa intitulou Pour un Empire Européen (Flammarion, 2007), retoma o sentido de um cosmopolitismo realista aplicado ao conceito complexo de um Nós europeu que congrega um passado de guerra e um futuro pacífico inadiável. A europeização da União Europeia é um processo dinâmico, inacabado, virado para o interior e para o exterior, que lida com uma alteridade cultural que nenhum nacionalismo pode arrogar-se homogeneizar. Beck e Grande optam por chamar a si o conceito de cosmopolitismo para o aplicar à Europa e tentar responder à questão fundamental do que é ser-se europeu: afinal o que é a Europa?
José Caselas
Atrevo-me a fazer três citações da introdução deste volume organizado por António Zilhão:
«O sucesso da “filosofia analítica” no mundo anglo-saxónico teve, porém, duas indesejáveis consequências na Europa Continental. Levou, por um lado, ao surgimento e difusão do preconceito de acordo com o qual este tipo de pensamento seria especificamente anglo- saxónico. A preponderância deste preconceito alimentou, por sua vez, um mito devastador: o de que a manutenção da especificidade cultural dos países do continente europeu passaria pela adopção de uma abordagem dos problemas filosóficos centrada na recuperação de uma terminologia arcaica, completamente desenquadrada dos esquemas conceptuais que, com enorme esforço, foram desenvolvidos pelo melhor pensamento científico e filosófico europeu e norte americano nos últimos 100 anos. Curiosamente, tanto a força do preconceito como a crença no mito acima identificados tem sido igualmente alimentados por praticantes da “filosofia analítica”, que extraem consideráveis vantagens académicas e pessoais do poder nepotista que o estatuto oficioso de chefes de seita lhes confere.
Rolando Almeida
Sábado, 20 de Outubro de 2007
Não é talvez de muito bom gosto escrever no blog descrevendo aspectos da minha vida privada. Mas este que a seguir relato reveste-se de particular interesse para o ensino da filosofia no ensino secundário. Esta sexta feira, passei de visita por casa de um amigo que é colega de filosofia. Na escola onde trabalha, o manual que tem adoptado recomenda, para o módulo inicial, «Abordagem introdutória à Filosofia e ao filosofar», a exibição do filme de 1998, de Eric Darnell e Tim Johnson, A formiga Z. Como nunca tinha visto o filme perguntei ao meu amigo e colega se o tinha e se mo emprestava para o visionar e perceber, então, o que dali poderia retirar para a minha disciplina.
Rolando Almeida
Quinta-feira, 18 de Outubro de 2007
Uma das discussões mais actuais é a do criacionismo versus evolucionismo. Tradicionalmente as religiões pretendem transformar em indiscutível os problemas que são, pela sua natureza, racionalmente discutíveis, como o problema da existência de Deus. Uma das diferenças entre a filosofia e a religião é que ao passo que a filosofia discute o problema, a religião não o faz. E somente em épocas de falta de liberdade do pensamento é que os filósofos não se puderam dedicar ao problema de forma intelectualmente honesta. Não creio que Richard Dawkins pretenda discutir filosoficamente o problema, até porque se assume como um ateu convicto.
Rolando Almeida
Título: O Que é a Arte?
Autor: Nigel Warburton
Colecção: Filosoficamente nº3
Págs. 172 + 16
Euros 12,86 / 13,50
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Quando um artista manda para uma exposição um pavão vivo isso é Arte?
O que é a Arte?
Eis uma pergunta que muitos de nós gostaríamos de ver respondida. É esta questão que Nigel Warburton desmistifica neste livro. Com a sua habitual clareza, explica-nos teorias da arte — muito faladas e pouco entendidas — de autores como Clive Bell, Colingwood e Wittgenstein. E aborda ainda outras importantes questões como a intenção do artista, representação e emoção.
Um guia, estimulante e acessível, para o imenso puzzle da Arte.
Gosta de Filosofia?
Interessa-se pela Arte?
Gosta apenas de observar quadros?
Então este livro é para si.
Terça-feira, 16 de Outubro de 2007
Segunda-feira, 15 de Outubro de 2007
Para compreender o que é um argumento vamos começar por ver o seguinte exemplo:
João — Este quadro é horrível! É só traços e cores! Até eu fazia isto!
Adriana — Concordo que não é muito bonito, mas nem toda a arte tem de ser bela.
João — Não sei… por que razão dizes isso?
Adriana — Porque nem tudo o que os artistas fazem é belo.
João — E depois? É claro que nem tudo o que os artistas fazem é belo, mas daí não se segue nada.
Adriana — Claro que se segue! Dado que tudo o que os artistas fazem é arte, segue-se que nem toda a arte tem de ser bela.
A Arte de Pensar
Sexta-feira, 12 de Outubro de 2007
Depois ensinaram-me a ler: e o Estado, que certamente tinha interesse em que eu soubesse ler, e que, por meio das suas repartições públicas, estudara prudentemente o livro que melhor me convinha, como lição moral, e como lição patriótica, meteu-me nas mãos um volume traduzido do francês e chamado Dimão de Nântua. Eram as aventuras dum justo: abundavam lá os exemplos de modéstia, de diligência, de caridade, de pudor; mas todas estas virtudes, suaves e íntimas, só exibiam longe, em Dijon, na Alsácia, e nas estalagens da Picardia.
Eça de Queiroz
Quinta-feira, 11 de Outubro de 2007
Prometi que regressaria a este livro. Da contracapa deixo o texto para aperitivo. Mas uma palavra apenas: um destes dias um amigo comentava-me que a palavra «eduquês» era feia e já começava a cheirar mal. Na verdade, dando pouca ou nenhuma importância à estética da palavra, concordo com a segunda parte: o eduquês já cheira mal.
“Após inumeráveis reformas, o ensino das ciências mergulhou numa profunda crise. Muitos alunos terminaram o ensino secundário na ignorância das mais elementares regras da lógica, no desconhecimento de conceitos fundamentais de matemática e de ciências e com total incapacidade para resolver problemas simples. Entre outras gravosas consequências desta realidade, os cursos superiores das áreas científicas esvaziam-se progressivamente, comprometendo o desenvolvimento científico e tecnológico do país”.
Ena! Ainda não nos tínhamos apercebido disto……
V.A., Eduquês: um flagelo sem fronteiras. O caso Lafforgue, Gradiva, 2007
Quarta-feira, 10 de Outubro de 2007
Domingo, 7 de Outubro de 2007
Recentemente, no fórum de discussão de professores de filosofia do manual, A Arte de Pensar, colocaram-se algumas dúvidas sobre um autor, para muito de nós, difícil de compreender. Falo de Quine. Provavelmente por se tratar de um matemático, como muitos outros filósofos, por vezes somos confrontados com partes da sua obra que nos parecem, à partida, mais impenetráveis. Uma das boas sugestões que entretanto surgiu no fórum veio de Desidério Murcho, um dos moderadores.
Rolando Almeida
Terça-feira, 2 de Outubro de 2007
Um dos problemas da filosofia da arte começa quando pressupomos que o gosto é uma questão inteiramente subjectiva. Se os quadros de Paula Rego são ou não belos é uma questão de apreciação pessoal e assunto arrumado. Mas será que, quando olhamos para uma obra de arte, nada mais está lá do que o que conseguimos ver? Um sujeito muito mal formado jamais verá mais do que traços aleatórios numa tela de arte abstracta, ao passo que um outro com maior cultura e formação, vê algo mais na mesma obra. Se a arte fosse uma questão somente dependente da subjectividade, como seria uma obra aos olhos, por exemplo, de um porco?
Rolando Almeida