Uma das obras de filosofia mais interessantes, escritas para adolescentes entre os 12 e os 18 anos, é a de Stephen Law. São livros divertidos, claros e muito atraentes que provam que a filosofia e o pensamento crítico pode e deve ser incentivado desde tenra idade. Admitimos esta realidade facilmente para a física ou a química, porque não para a filosofia? O caso da obra física divertida (Gradiva) de Carlos Fiolhais é um exemplo semelhante em Portugal. O mesmo está por ser feito para a filosofia. Era até uma boa forma de mostrar a importância do ensino da filosofia e a sua viabilidade para a educação dos jovens estudantes. Enquanto essa obra não aparece, a tradução da de Stephen Law até era uma boa ideia para os editores portugueses. Que tal aprendermos filosofia mesmo no Natal com o Xmas Files? Como é que pensamos que o mundo começou? Acreditamos em discos voadores? Como é que sabemos que os nossos pais não são virtuais? Será que um robot pode pensar como um ser humano? Qual a relação do natal com a natureza de Deus? A natureza dos milagres de Natal? Aparentemente estas questões parecem-nos muito comezinhas para serem tratadas filosoficamente. A verdade é que elas envolvem problemas filosóficos. Em Portugal são muitas as vezes que ouvimos falar que devemos partir da experiência dos estudantes para lhes ensinar filosofia. A realidade é que nos faltam as metodologias para saber qual a melhor forma de o fazer. A obra aqui apresentada de Stephen Law constitui uma excelente ferramenta que nos ajuda a brincar com a filosofia, mostrando ao mesmo tempo que ela é séria e importante e sem ter de resvalar para a conversa sem conteúdo filosófico, ou ter de recorrer a matérias que não são filosóficas para mostrar o que é a filosofia. Dispamo-nos de preconceitos e de certeza que muito temos a aprender com estes livros. Muito mais teriam os nossos estudantes. Os volumes Philosophy Files, são acompanhados de desenhos muito estimulantes para o jovem leitor. Ficamos a aguardar para que algo resulte idêntico em língua portuguesa. E esta é uma possibilidade de potenciar o interesse social na filosofia e nos seus problemas. Se tal acontece em Inglaterra, porque não em Portugal? É que a cultura portuguesa agradecia muito.
Stephen Law:
The philosophy files, what`s it all about?, Orion Children`s Books, 2000
The philosophy files, what`s it all about?... again, Orion Children`s Books, 2003
The xmas files, the philosophy of Christmas, Weidenfeld & Nicolson, 2003
Nota: qualquer um destes livros pode ser comprado a preços muito acessíveis no Amazon inglês. Encontram-se em segunda mão em excelente estado chegando a custar menos de 5€, mais os portes dos correios (cerca de 5€).Comprar.
(acção acreditada pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua)
Duração do curso: 30 horas (com uma componente predominantemente prática)
Calendarização: dias 6, 7, 13 e 14 de Julho (6ª feira e sábado)
Das 9,30h às 13h e das 14,30h às 18,30 h
Objectivos
Conhecer e aplicar o programa e a metodologia desenvolvida por Matthew Lipman – Filosofia para Crianças.
Promover a participação no exercício de um pensar em “comunidade de investigação”/questionamento.
Facilitar a intervenção dos/as professores/as no desenvolvimento e avaliação de competências cognitivas, sociais e afectivas.
Destinatários: Professores de todos os graus de ensino e todos os que se interessam por uma reflexão conjunta, independentemente da área em que trabalham e da sua formação (máximo 20 pessoas, mínimo 15)
Informação: Esta acção habilita os/as formandos/as a leccionarem o programa de Filosofia para Crianças como actividade de complemento curricular em escolas do 1º ciclo.
A sua aplicação facilita também as áreas de Formação Cívica, Área de Projecto e as aulas de Filosofia (10º e 11º anos).
Através da análise e clarificação de questões, esta acção contribui para um pensar mais flexível e autónomo, desenvolvendo a capacidade de identificação de alternativas para a resolução dos problemas quotidianos.
Um palimpsesto é um livro em pergaminho, no qual se escrevia, raspava e voltava a escrever. Um milionário americano comprou um palimpsesto com orações, no qual se escondia textos de Arquimedes de importância fundamental para o mundo da ciência e que viriam a antecipar os desenvolvimentos mais tardios de Galileu e Newton. Reviel Netz e William Noel montam um trabalho imponente e notável, recorrendo aos melhores especialistas e às técnicas mais desenvolvidas para recuperar as obras perdidas do génio da antiguidade grega. O Codex de Arquimedes teve edição portuguesa em simultâneo com a edição mundial, num belíssimo livro em tudo igual ao original colocando as Edições 70 na corrida para uma das melhores edições de 2007. O livro é um verdadeiro tratado de ciência, mas também o relato de uma interessante história que moveu muita gente para recuperação dos textos originais de Arquimedes. A história faz-nos reflectir e pensar sobre a origem de determinados documentos e todo o trabalho que envolve até que eles cheguem ao nosso conhecimento na forma original. Uma boa leitura de verão.
“Em segundo lugar, este manuscrito é um palimpsesto. A palavra deriva dos termos gregos palim (outra vez) e psan (raspar), o que significa que o pergaminho usado para o fazer foi raspado por mais de uma vez” (p.25)
Reviel Netz e William Noel, O codex Arquimedes, Ed. 70, 2007 (Trad. Pedro Bernardo e Pedro Elói Duarte)
No mês de Junho, o blog ultrapassou as 10.000 visitas, sendo que este número foi alcançado em menos de 1 ano. Razão para tecer aqui uma breve reflexão. O blog tem uma média de 100 visitas semanais. Aquando da publicação da recensão aos manuais escolares de filosofia em adopção para o 10º ano, o blog passou a ter cerca de 200 a 300 visitas diárias. A que se deve este aumento repentino? O trabalho dos manuais, não é um trabalho exaustivo. Muito mais há a dizer sobre os manuais e, oportunamente, regressarei a esse tema, muito provavelmente, em Setembro próximo. De todo o modo procurei fazê-lo de modo imparcial. Foi elaborado durante um fim de semana, no qual me privei de outras tarefas, nomeadamente a correcção dos trabalhos de final de ano dos meus alunos. Fi-lo esperando os resultados de forma ingénua. Sempre pensei que meia dúzia de leitores leriam o texto e pouco ou nada se importariam com ele. As reacções foram muito para além do que, inicialmente, previa. E os resultados só provam que praticamente não existe crítica pública aos trabalhos públicos e, muitas vezes, os próprios autores não estão habituados a essa crítica pública. O desejável seria que aparecessem outros trabalhos semelhantes, expondo argumentos diferentes dos meus e razões, provavelmente, mais plausíveis. Mas o mesmo não veio a suceder. O trabalho que publiquei foi praticamente o único no país inteiro e, segundo as minhas pesquisas no Google, o único no ciberespaço. Mas criou discussão durante o período das adopções e pude verificar que se tratou de um trabalho útil para muitos colegas professores de filosofia. E ainda bem. A razão do mesmo é suscitar a discussão pública em torno dos manuais, da concepção dos mesmos e das razões que nos levam a optar pelo manual x em detrimento do manual y, por muito desagradável que tenha sido para um ou outro autor. Outra razão é que este espaço de discussão e crítica pública pode e deve acontecer. É nele que se joga a qualidade das nossas apreciações e trabalho. A crítica pública pode constituir o espaço de discussão impulsionador para traçar novos rumos ou para aperfeiçoar o nosso trabalho. Isso acontece na música, no teatro, na literatura… porque não na filosofia? Muito provavelmente pelo circuito ser pequeno e muito fechado. Com efeito, a possibilidade de se alargar o circuito, levando a disciplina que amamos a mais gente, estimulando as pessoas ao interesse pela filosofia, é sujeitá-la ao espaço público, fazendo com que o nosso trabalho possa ser discutido, mas também fazendo com que os profissionais da filosofia não apareçam somente quando está em causa a adopção de manuais, mas também na discussão em torno dos problemas da filosofia, como o aborto, eutanásia, a questão da arte, da ciência, etc… Sem este trabalho público nós, profissionais da filosofia, não podemos esperar que a dignidade da disciplina seja imposta por decreto de lei por um qualquer político governante que até simpatiza com a filosofia porque tem um filho professor de filosofia. É com trabalho diário, publicações, escrevendo, debatendo, divulgando, promovendo a disciplina nas nossas escolas, exigindo a reposição do exame nacional, defendendo um programa de qualidade com conteúdos próprios e manuais com qualidade que retribuímos a dignidade à disciplina e mostramos a sua utilidade àqueles que nada sabem sobre ela. De nada nos adianta esperarmos que quem nunca estudou filosofia ou teve uma má experiência com ela no secundário tenha de compreender a sua utilidade. Somos nós quem temos a obrigação de trabalhar nesse sentido.
Este blog é um sinal do trabalho que se pode e há a fazer, pelo menos para, não dizermos a chorar que é injusto que nos roubem espaço à nossa disciplina e para que ela se mantenha com vitalidade e utilidade no mundo em que vivemos. E não temos de estar sempre dependentes do Ministério Pai para trabalhar em prol da nossa disciplina. De resto, ninguém ousa acabar com uma actividade que produza. E se algum tolo o quiser fazer, teremos argumentos de sobra para mostrar que é errado.
Para concluir, gostaria de anunciar que o futuro deste blog será a construção de uma página Web, que permite organizar melhor os conteúdos. O blog continua disponível para a participação de todos os profissionais de filosofia.
Uma palavra de agradecimento aos leitores e visitantes, aos alunos de filosofia que muitas vezes visitam o blog, a João Paulo Maia por ter disponibilizado um interessante trabalho sobre manuais, a José Caselas pelos textos que publica de autores menos explorados no blog. Um agradecimento especial a Tânia Sofia e ao João Francisco.
As dificuldades suscitadas pela noção de transubstanciação não põem em causa, é claro, os conceitos gerais de substância e acidente fora desta sua particular, e talvez perversa, aplicação teológica. Mas a análise aristotélica da mudança levanta outros problemas sobre os quais Tomás de Aquino se debruçou. Se a mudança acidental deve ser entendida como uma e a mesma substância que assume vários acidentes, e se a mudança substancial deve ser entendia como uma e a mesma matéria que assume várias formas substanciais, será que devemos entender a origem do próprio mundo material como um caso em que uma e a mesma essência passa da não existência à existência? É claro que esta questão não se colocou a Aristóteles, que não acreditava na criação a partir do nada; mas alguns aristotélicos posteriores levantaram a questão e responderam-lhe afirmativamente. Tomás de Aquino rejeitou firmemente essa ideia: a criação é completamente diferente da mudança e não deve ser entendida em termos de uma existência ligada a uma essência.
Contudo, Tomás de Aquino aceitava a terminologia da essência e da existência e utilizava frequentemente esses termos na sua metafísica. Em todas as criaturas, ensinava ele, a essência e a existência são distintas; em Deus, porém, são idênticas: a essência de Deus é a sua existência. Esta conclusão é frequentemente entendida como o resultado de um sublime discernimento metafísico. De facto, parece apoiar-se sobre um equívoco.
Devemos distinguir entre a essência genérica e a essência individual. Se entendermos «essência» no seu sentido genérico (como uma realidade que corresponde a um predicado, como «...é Deus», «...é humano», «...é um Labrador»), então é verdade que existe, em todas as criaturas, uma distinção real entre essência e existência. Ou seja, o facto de existirem ou não exemplares de uma certo categoria de coisa é uma questão muito diferente daquilo que são as características constituintes de uma coisa dessa categoria — por exemplo, o facto de haver ou não unicórnios é um tipo de questão diferente da de saber se os unicórnios são mamíferos. Mas se entendermos «essência» neste sentido, a doutrina de que a essência e a existência são idênticas em Deus é um disparate: corresponde a dizer que à questão «A que categoria pertence Deus?» se deve responder «Deus existe».
Por outro lado, se entendermos «essência» no sentido individual pelo qual podemos falar da humanidade individualizada que Sócrates e só Sócrates possui, então a doutrina da distinção real nas criaturas torna-se obscura e infundada. Como Tomás de Aquino muitas vezes afirmou, para um ser humano, existir é continuar a ser um ser humano; a existência de Pedro é a mesmíssima coisa do que Pedro continuar a possuir a sua essência; se ele deixar de existir, deixará de ser um ser humano e a sua essência individualizada desaparece da natureza das coisas.
Anthony Kenny, História concisa da filosofia ocidental, Temas & Debates, 2003, pp.191-92 (trad. De. D. Murcho, F. Martinho, M. J. Figueiredo e Pedro Santos)
No passado dia 2 de Junho, na Associação de Professores de Sintra, teve lugar o lançamento do livro, Eu sou a Ana e a Sementinha que não sabia quem era, de Alice Santos.
Um encontro que contou com a presença da Presidente da Associação onde está sediado o Centro "Diálogos - Filosofia com Crianças... e outras idades", através do qual é feita a divulgação da metodologia de Mattew Lipman, Filosofia Para Crianças.
O livro pode ser encomendado à cobraça (8€) através de mail dirigido à APS: profsintra@netcabo.pt
John Locke (1632-1704) Filósofo empirista inglês. Defendeu, contra Descartes, a inexistência de ideias inatas. Segundo Locke, a mente é como uma tábua rasa, possuindo poderes de raciocínio, mas não quaisquer conteúdos inatos. Contudo, é defensável que Locke não era realmente empirista, pois admite a existência de dois tipos de experiência (a externa e a interna), e igualmente de três tipos de conhecimento: intuitivo, que é directo e com o grau máximo de certeza; demonstrativo, que é indirecto e dá origem ao conhecimento lógico e matemático; e sensível, que diz respeito ao conhecimento da existência de objectos exteriores. Baseando-se na diferença entre qualidades primárias e secundárias das coisas, distinguiu o mundo tal como é em si do mundo tal como é para nós. Para Locke, a abstracção era uma componente central do conhecimento, que permitia a formação de ideias abstractas a partir de impressões sensíveis concretas. A distinção entre essência nominal e real é também central na sua teoria do conhecimento: assim, a essência real da água, por exemplo, é a sua constituição intrínseca, ao passo que a sua essência nominal são apenas as qualidades que atribuímos à água, mas que não correspondem à sua natureza intrínseca. É no Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690) que Locke expõe estas ideias, entre outras.
Em ética, Locke defendeu uma versão da teoria dos mandamentos divinos; em filosofia política, defendeu o valor da tolerância política e religiosa, e a separação da igreja e do estado. As suas doutrinas da legitimação da propriedade privada, da justificação da autoridade do estado e da legitimidade da revolta contra o estado injusto são ainda hoje muitíssimo discutidas, e são apresentadas no Segundo Tratado sobre o Governo (1689). As suas ideias sobre a tolerância são apresentadas em Carta sobre a Tolerância (1689).
in. Dicionário Escolar de Filosofia, Org. Aires Almeida, Plátano, 2003 (Desidério Murcho)
John Rawls - (1921-2002) Filósofo moral e político americano considerado o principal filósofo político do séc. XX. As ideias de Rawls inserem-se na tradição do contrato social de Locke, Rousseau e Kant. Rawls pensa que se as pessoas tiverem de escolher os princípios (ver princípio) de justiça sem saber como poderão ser por eles afectados, escolherão princípios justos. Imagina, assim, uma experiência mental em que todas as pessoas se encontram numa «posição original» sob um «véu de ignorância», isto é, em que desconhecem quais as suas aptidões, posição social, riqueza, religião e concepção de valor e de bem. Nesta situação, pensa Rawls, as pessoas chegarão por um contrato social hipotético àquilo a que chama justiça como equidade. Esta concepção de justiça é expressa por dois princípios, um que garante liberdades básicas iguais (ver liberdade) para todos – como as políticas, de expressão e reunião, de consciência e de pensamento, etc. –, e outro que estabelece que as desigualdades devem ser distribuídas de forma a beneficiarem todos e que devem decorrer de posições e funções a que todos tenham acesso. Este último princípio implica que a riqueza seja distribuída de modo a fazer com que os que estão em pior situação fiquem tão bem quanto possível. Uma sociedade justa será liberal (ver liberalismo), democrática (ver democracia) e um sistema de mercado no qual se procede à distribuição da riqueza e em que pessoas com capacidades e motivações iguais têm possibilidades iguais de sucesso, independentemente da classe social em que tenham nascido.
in. Dicionário Escolar de Filosofia, Org. Aires Almeida, Plátano, 2003 (Alvaro Nunes)
3.Em Agosto de 2006, o Ministério aboliu as Orientações do Programa (toda a informação relativa a este processo disponível aqui), não emitindo, até hoje, qualquer documento que o oficializasse – ver aqui.
4.Em Dezembro de 2006, o Ministério emite as informações exame recuperando parte do documento de orientações que antes tinha homologado para depois abortar.
Em resultado disto temos. No ano lectivo de 2005/06, a prova de exame referiu-se somente aos conteúdos do 11º ano. Este ano refere-se a 10º e 11º anos. Um aluno que esteja a frequentar o 12º ano e que tenha feito o exame de hoje não teve possibilidades de estudar no 10º ano segundo as matérias que entretanto foram exigidas para exame. As Orientações de Leccionação foram aprovadas em Setembro de 2005 mas, nessa altura, a maior parte das escolas tinham manuais adoptados que não abordavam os autores que passaram a ser exigidos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Blog de divulgação da filosofia e do seu ensino no sistema de ensino português. O blog pretende constituir uma pequena introdução à filosofia e aos seus problemas, divulgando livros e iniciativas relacionadas com a filosofia e recorrendo a uma linguagem pouco técnica, simples e despretensiosa mas rigorosa.