A filosofia - o «amor da sabedoria» - pode ser abordada de duas maneiras: produzindo-a, ou estudando a forma como tem sido produzida. A segunda abordagem é familiar aos estudantes universitários que dão por si confrontados com o mais amplo corpo de literatura alguma vez devotado a um só tema. Este livro segue um molde mais antigo. Tenta ensinar filosofia fazendo filosofia. Ainda que remeta para os grandes filósofos, não forneço um guia fidedigno para as suas ideias. Expor cerimoniosamente os seus argumentos seria frustrar o meu principal objectivo, que é o de tornar viva a filosofia.
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A nossa necessidade filosófica mais urgente, parece-me, é a de compreender a natureza e o significado da força que outrora manteve o nosso mundo unido, e que está agora a perder o seu controlo - a força da religião. Pode ser que a crença religiosa seja em breve uma coisa do passado; é, contudo, mais provável que crenças com a função, a estrutura e o ânimo da religião fluam para o vazio deixado por Deus. Em qualquer caso, precisamos de compreender o porquê e a razão do motivo da religião. É de ideias religiosas que o mundo humano, e o sujeito que nele habita, são feitos. E é o resíduo espiritual do sentimento religioso que provoca os nossos problemas filosóficos mais intratáveis.
Roger Scruton, Guia de Filosofia para pessoas inteligentes, Guerra e Paz, 2007 (trad. Maria João Madeira)
Uma boa forma de divulgar a filosofia, para além de todo o trabalho a fazer nas escolas secundárias onde a filosofia se ensina como formação geral, é pela publicação de boas obras que, sem perder o rigor do pensamento filosófico, possam revelar às pessoas sem formação, o poder e a força dos argumentos e a sua relevância nas nossas vidas e cultura. Recordo sempre o trabalho de Carl Sagan em prole da democratização da ciência. As obras de Sagan não só são rigorosas, como rapidamente nos confrontam com as mais recentes descobertas científicas. Como em tudo, em Portugal temos somente sinaizinhos pequenos da divulgação da ciência, filosofia e conhecimento em geral, muito se devendo ao esforço singular de meia dúzia de homens e mulheres de ciência e da filosofia. Neste último caso, na filosofia, é quase um marasmo. Traduzem-se obras de menor relevância e outras há que poderiam cativar novos públicos para a investigação filosófica que só possuímos acesso dominando um pouco a língua onde elas mais se publicam, o inglês. Deste modo, temos a ideia que existem áreas da investigação filosófica tão sofisticadas que o público em geral jamais as entenderia, o que não corresponde de todo à verdade dos factos. Seria o mesmo que pensar que um físico não deve escrever uma linha que seja para explicar a física quântica ao grande público, uma vez que este jamais entenderia tão sofisticada teoria. Mas pensar deste modo incorre num perigo enorme, quer para a ciência, quer para a filosofia. Não divulgando as áreas, mesmo as mais sofisticadas, do saber e conhecimento, coloca-se do lado de fora grande parte da população que jamais terá acesso ao estudo de tais matérias. Seria algo como os especialistas da língua portuguesa pensarem que a pessoa comum jamais se poderá interessar pela obra de Eça de Queiroz, uma vez que é muito complexa e, por tal razão, mais vale ensinar somente o funcionamento e regras de um concurso televisivo como o “Big Brother”. Esta é uma ideia autoritária e snobe que recusamos desde sempre.
A metafísica é uma área complexa da investigação filosófica, como de resto, toda e qualquer área da filosofia. Dizer que a filosofia é complicada é exactamente a mesma coisa que dizê-lo em relação à matemática, física, química ou biologia. Essa razão não é suficiente para nos fazer crer que não devemos divulgar esses saberes e insistir na ideia de que porque são difíceis não se devem ensinar é uma tolice que só cabe na cabeça de alguém intelectualmente muito pobre e arrogante. Curiosamente algumas destas ideias proliferam em Portugal, precisamente num país onde pouca investigação sofisticada se faz. Possuímos tanto apreço por cientistas como João Magueijo ou António Damásio, que sendo portugueses, não investigam em Portugal. Isto só nos prova que geneticamente os portugueses são tão capazes como qualquer outro povo, independentemente da raça ou nacionalidade. O conhecimento científico e a verdade não possuem fronteiras, nem limites genéticos. Possuem sim limites culturais e de mentalidade. Em democracia, a educação é um bem que pertence a todos e não somente às escolas. Aprendemos porque vamos à escola, mas também porque lemos livros, estamos informados e podemos fazer as escolhas necessárias às nossas necessidades. Curiosamente em matéria educativa, em Portugal, tem-se pensado que fazer uma escolha consiste em ser serralheiro mecânico ou médico num hospital do Estado. Esta é uma visão limitada e redutora do conhecimento. Daí se explique que encontremos com uma frequência aberrante discussões sobre se um serralheiro mecânico deve ou não conhecer a obra de Eça de Queiroz. Esta ideia redutora manifesta a vista curta do que é a cultura e o saber. Opções em liberdade democrática envolve também poder entrar numa livraria e, comprando um livro, ter acesso à informação que até nem é da sua área profissional ou de estudo. Liberdade é o serralheiro mecânico não ser impedido pelo sistema educativo à iliteracia (científica também) e poder comprar um livro de metafísica ou o médico comprar e estudar um livro de serralharia mecânica. Nos países onde mais se investiga (E.U.A e Inglaterra) é também onde mais se publica com este propósito, o de dar a liberdade de escolha.
Earl Conne e Theodore Sider provavelmente nem necessitaram destas considerações para escreverem um introdução à metafísica tão deliciosamente compreensível como Riddles of Existence, A guided tour of metaphysics, Oxford, 2005(Enigmas da Existência, um guia de viagem pela metafísica, Oxford, 2005) . Nesta obra, problemas centrais da metafísica são tornados problemas de todos, numa linguagem suave, mostrando, desta forma, o quanto é importante todos termos umas noções de como pensar os problemas da metafísica. Desde a identidade pessoal, ao problema do fatalismo, tempo, deus, livre arbítrio e determinismo, o problema dos universais até ao problema da possibilidade e necessidade, encerrando num delicioso capítulo sobre What is metaphysics?, os autores dão a conhecer ao grande público a pertinência destes problemas e, muito interessante, o quanto eles nos pertencem, enquanto seres racionais.
Para abrir o apetite, exponho brevemente o problema em análise no primeiro capítulo, escrito por Theodore Sider: num julgamento por assassinato, o leitor decide representar-se a si mesmo, defendendo-se alegando que, na altura do crime, era uma pessoa diferente daquela que é actualmente. Ora bem, parece estranho, mas o argumento consiste em defender que, na verdade foram as suas mãos que cometeram aquele crime, as fotografias comprovam-no, mas a pessoa que era no momento do crime, já não é a mesma que é agora. Obviamente nenhum tribunal aceitaria tal argumento, com efeito, o que há de errado com o argumento? Como é que preservamos a identidade no tempo?
A questão levanta sérios problemas na filosofia. Riddles of Existence é uma porta aberta ao problema e merecia uma tradução para o público português começar a pensar filosoficamente a metafísica.
Este ano lectivo marca a escolha, nas escolas, do manual de filosofia para o 10º ano adoptando-o para os anos lectivos seguintes. Desta forma as editoras fazem chegar aos professores os seus novos projectos. Procuramos, neste blog, dar-nos conta dos projectos que consideramos mais convincentes, divulgando-os e expondo alguns dos motivos que fazem com que encontremos mais razões para adopção de um manual em detrimento de outro. Claro está que a opção resulta de um modo de ver a filosofia e o seu ensino e que vai de encontro às ideias que têm sido sistematicamente aqui defendidas. As opções, por essa razão, não encerram qualquer debate sobre o assunto. Entre os cerca de 15 a 20 projectos que normalmente nos chega às mãos, infelizmente, a nossa opção recai sobre uns 3 ou 4 manuais. Pelas razões já mais que apontadas, o manual da Didáctica Editora, Arte de Pensar, continua a merecer a nossa atenção. Curiosamente parece que as editoras despertaram, com o Arte de Pensar (pelo menos consideramo-lo pioneiro na forma didáctica como aborda os problemas filosóficos), para a ideia de que a filosofia pode ser exposta de modo diferente do habitual. É interessante observar que alguns autores que concebem manuais há alguns anos, começam a citar autores que o Arte de Pensar citou pela primeira vez para o ensino secundário. Há algo de negativo nesta postura? Não parece. É natural que um manual tenha divulgado uma forma diferente e didacticamente mais acertada autores nunca antes citados nos manuais portugueses de filosofia para o ensino secundário e, existindo vantagem nessa opção, é salutar que outros venham a traçar o mesmo percurso. Pode até iniciar-se aqui um diálogo curioso. Esperemos que tal venha a suceder.
Para além dos autores de manuais, existem muitos professores de filosofia que conhecem a bibliografia actual, compram os livros e compreendem outros modos de expor os problemas da filosofia. Parece ser o caso dos autores do Criticamente, o novo projecto da Porto Editora. E em que é que o Criticamente se destaca? Não se trata de um manual com as animações do «eduquês» (análise de letras de canções, fotografias dos heróis efémeros das novelas televisivas, etc…), mas antes um manual no qual os problemas filosóficos são a animação central. Resulta a questão: para quê derivar os problemas filosóficos para uma animação que não lhes pertencem, se eles são animados em si e dizem respeito às questões mais elementares que todas as pessoas podem e devem fazer? Bem, poderíamos defender que se assim é, o modo como os mesmos são apresentados pode variar e muito. Sem dúvida que podem! Não podem é ser desvirtuados do seu terreno próprio, o da argumentação racional. Os conteúdos da filosofia podem até ser apresentados de modo histórico. Muitos manuais acabam por fazer isso em algumas unidades. A questão que se coloca é a do interesse didáctico dessa opção para os alunos do secundário e se tal constitui um convite directo ao filosofar? Estamos crentes que não! E por essa razão o Criticamente aparece como um bom manual de filosofia, ainda que, obviamente, possua as suas limitações. Claro está que outros manuais são melhores numa unidade e mais fracos noutras. A selecção de textos pode resultar melhor numas unidades que noutras. A questão está também no fio condutor e na ideia que passa ao jovem aluno do que possa ser a filosofia. Esta coerência interna de um manual observa-se facilmente na forma como os conteúdos vão sendo operacionalizáveis ao longo de todas as unidades seguintes. De que vale, por exemplo, expor aos alunos que os problemas filosóficos são apresentados em texto sob a forma de argumentos com uma tese que se pretende defender e expondo razões em favor dessa mesma tese se, nas unidades seguintes, esquecemos este aspecto? O Criticamente, a bem da filosofia, não comete esses erros didácticos. É um manual que conduz o aluno numa ideia muito clara e intuitiva do que é a filosofia e a actividade crítica que lhe corresponde.
Por estas razões o Criticamente resulta numa boa opção para aprender filosofia, não esquecendo os autores e argumentos clássicos que marcaram a filosofia ocidental, mas remetendo o aluno para uma atitude crítica e racional perante os problemas, estimulando com a animada filosofia e debate filosófico.
Artur Polónio, Faustino Vaz, Pedro Madeira, Criticamente, Porto Editora, 2007 (Revisão científica de João Cardoso Rosas)
Rolando Almeida
NOTA: até à data ainda desconheço todos os novos projectos das diferentes editoras.
Saber argumentar é a base da discussão racional. Muitas vezes temos dificuldade em compreender o que é a discussão racional, somente porque desconhecemos as bases da argumentação racional. As regras da argumentação, baseadas na lógica, não se apresentam como um circuito fechado, dogmático. Pelo contrário, o desconhecimento das mesmas é ter as portas fechadas do progresso mental pela discussão racional. E não há discurso possível sem regras e o entendimento das mesmas. O livro de Anthony Weston constitui um bom alicerce para o conhecimento do que é intrínseco ao discurso racional. De leitura acessível, nele, contactamos com as regras elementares da lógica formal e informal, apresentando ainda uma lista das principais falácias na lógica informal e ajudando a compreender quando estamos perante um argumento válido e um inválido na lógica formal, ou quando os argumentos são argumentos bons ou maus na lógica informal. Uma formação sólida na arte de argumentar é a possibilidade que se abre a todo o inesgotável terreno da argumentação. Recomenda-se esta boa leitura!
Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Gradiva, 1996
Será que Deus existe? Esta é uma questão fundamental, uma questão que a maior parte das pessoas já enfrentou num ou noutro período da vida. A resposta dada por cada um de nós não afecta apenas a forma como agimos, mas também a forma como compreendemos e interpretamos o mundo e o que esperamos do futuro. Se Deus existe, a existência humana pode ter sentido e podemos mesmo ter esperança na vida eterna. Se não, temos de criar nós mesmos o sentido das nossas vidas: nenhum sentido será dado a partir do exterior e a morte será provavelmente definitiva.
Quando os filósofos voltam a sua atenção para a religião, costumam examinar os vários argumentos que têm sido oferecidos a favor e contra a existência de Deus. Ponderam as provas e examinam atentamente a estrutura e as implicações dos argumentos. Examinam também conceitos tais como a fé e a crença, para ver se a maneira como as pessoas falam acerca de Deus faz sentido.
O ponto de partida da maior parte da filosofia da religião é uma doutrina muito geral acerca da natureza de Deus, conhecida como teísmo. Esta doutrina defende a existência de um deus único, a sua omnipotência (capacidade para fazer tudo), omnisciência (capacidade de saber tudo) e suprema benevolência (sumamente bom). Esta perspectiva é partilhada pela maior parte dos cristãos, judeus e muçulmanos. Nestas páginas irei deter-me na ideia cristã de Deus, apesar de a maior parte dos argumentos se aplicarem igualmente a outras religiões teístas e de alguns deles serem relevantes para qualquer religião.
Mas será que o Deus descrito pelos teístas existe de facto? Poderemos demonstrar que esse Deus existe? Há muitos argumentos que têm por objectivo demonstrar a existência de Deus. Neste capítulo irei apresentar os mais importantes.
Nigel Warburton, Elementos básicos de filosofia, Gradiva, «Filosofia Aberta», 2007
Reproduzimos também a apresentação disponível no site do manual.
Apresentações do A Arte de Pensar
28 de Abril, 11:00 horas — Hotel Sol Meliá Ria – Aveiro
05 de Maio, 11:00 horas — Hotel Montebelo – Viseu
12 de Maio, 11:00 horas — Hotel Turismo de Braga – Braga
19 de Maio, 16:30 horas — Hotel Tryp Exponor – Leça da Palmeira
23 de Maio, 17:00 horas — Hotel Real BelaVista – Albufeira
26 de Maio, 11:00 horas — Sana Malhoa Hotel – Lisboa
26 de Maio, 14:30 horas — Museu Casa da Luz – Funchal
02 de Junho, 11:00 horas — Hotel Costa da Caparica – Costa de Caparica
Mais informações: professor@didacticaeditora.pt, telf. 21 255 9970 ou 21 797 9278. (enviar mail ou telefonar para confirmar presença no Funchal)
Apresentação
A edição de 2007 do manual A Arte de Pensar (Didáctica Editora) cumpre cuidadosamente o Programa, respeitando os seus tempos lectivos, e simplifica a planificação das aulas e o processo de avaliação. É imparcial na exposição dos problemas, teorias e argumentos da filosofia e põe o estudante em contacto directo com os filósofos centrais do passado e do presente. Possibilita um ensino dinâmico e crítico, estimulando o estudante a tomar a sua própria posição e oferecendo-lhe os instrumentos críticos para o fazer.
Com o apoio científico de Sofia Miguens (Departamento de Filosofia da Universidade do Porto), trata-se de um manual que alia o rigor científico à lucidez didáctica, dando liberdade ao professor para escolher os seus próprios percursos, ajudando-o na exposição das matérias e na concepção de tarefas estimulantes.
Problemas, teorias e argumentos
Neste manual, a filosofia é apresentada ao estudante de modo intuitivo, criativo e rigoroso. Os problemas da filosofia são apresentados como perplexidades naturais que têm origem nos conceitos fundamentais relacionados com as ciências, as artes, as religiões e a vida quotidiana. As teorias dos filósofos são então apresentadas como respostas articuladas e sofisticadas a esses problemas. Por sua vez, estas teorias baseiam-se em argumentos, que são criticamente avaliados pelos estudantes.
Para o estudante, não se trata apenas de compreender os problemas, teorias e argumentos da filosofia. Trata-se também de pensar por si, tomar posição e dar os primeiros passos incipientes na actividade própria do filosofar. Para estimular o filosofar, o manual tem as seguintes características:
Fornece aos estudantes instrumentos críticos fundamentais, que lhe permitem discutir ideias com rigor;
Usa uma linguagem simples, precisa e clara;
Define ou caracteriza com rigor os conceitos necessários a uma discussão profícua;
Apresenta inúmeras actividades que estimulam o estudante a rever a matéria dada e a discutir por si os problemas, teorias e argumentos da filosofia.
Actividades
O manual propõe um total de 926 actividades: 211 questões de interpretação de texto, 126 temas de discussão de texto, 410 questões de revisão e 179 temas de discussão. Estas actividades visam permitir ao professor planificar aulas que não sejam meramente expositivas, envolvendo ao invés os estudantes na actividade crítica de discussão dos problemas, teorias e argumentos da filosofia.
Inclui um teste de diagnóstico (Vol. 1), 6 fichas de avaliação sumativa (Livro de Apoio) e orientações para a redacção de ensaios (Vol. 2).
O Livro de Apoio inclui propostas de resolução dos exercícios de revisão e discussão, assim como das fichas de avaliação sumativa.
Textos
Os 53 textos de filósofos clássicos e contemporâneos, dos quais 43 são traduções nossas ou inéditas, permitem ao professor optar por uma abordagem hermenêutica da filosofia, se o preferir, ou por uma abordagem socrática. A abordagem hermenêutica caracteriza-se por usar os textos de filosóficos clássicos e contemporâneos como pontos de partida para chegar aos problemas, teorias e argumentos da filosofia. Para permitir esta abordagem, os textos estão intimamente articulados com as matérias apresentadas ao longo do manual, e incluem inúmeras questões de Interpretação e de Discussão. Quando necessário, os textos incluem também tarefas ou informações de Contextualização. Os textos surgem no final de cada secção, devidamente numerados e correctamente referenciados (autor, título da obra, ano da edição original, tradutor e página). Textos intercalares, mais pequenos, são igualmente incluídos no corpo do manual, enriquecendo assim a exposição das matérias.
Filósofos e pensadores clássicos incluídos:
Platão
Aristóteles
Santo Anselmo
Gaunilo
S. Tomás de Aquino
Espinosa
Locke
Leibniz
Hume
Kant
Paley
Bentham
Mill
Tolstoi
Wilde
Kierkegaard
Clifford
James
Filósofos e pensadores contemporâneos incluídos:
Ayer
Beardsley
Bell
Dickie
Gensler
Goodman
Harsanyi
McGuinn
Nagel
Nozick
Oderberg
Rachels
Rawls
Regan
Ross
Russell
Sartre
Searle
Singer
Stolnitz
Weitz
O Caderno do Estudante (oferecido ao aluno) inclui 15 textos complementares, acompanhados de propostas de tarefas. Inclui igualmente explicações para ajudar o estudante a abordar textos filosóficos.
Glossário
O glossário, incluído no final de cada volume, reúne 166 definições rigorosas e claras. Estas definições estão intimamente articuladas com a exposição das matérias ao longo do manual. A precisão, rigor e clareza da exposição permitem ao professor optar por uma abordagem socrática. Neste tipo de ensino parte-se da força intuitiva dos problemas da filosofia, para chegar às teorias e argumentos defendidos pelos filósofos e materializados nos textos.
A linguagem rigorosa, simples e directa usada ao longo do manual contribui para o sucesso das aprendizagens. E a apresentação intuitiva dos problemas, teorias, argumentos e conceitos centrais da filosofia torna a aprendizagem estimulante.
Informação visual
O manual inclui 49 esquemas e tabelas, incluindo sínteses gráficas no final de cada capítulo. O grafismo é sóbrio mas moderno e a iconografia escolhida põe o estudante em contacto com as artes visuais do passado e do presente: todas as obras de arte incluídas estão devidamente referenciadas e incluem uma legenda que as coordena com a exposição das matérias.
Inclui-se inúmeras obras de alguns dos mais destacados artistas portugueses contemporâneos: Baltazar Torres, Sofia Leitão, Bruno Borges, Carlos Pinheiro, António Castelló, Rui Algarvio e Adriano Almeida.
Apoio
Este site inclui 108 textos de apoio, em permamente actualização ao longo do ano lectivo. No fórum de apoio os autores dão apoio diário aos professores; só em 2006 foram trocadas 980 mensagens neste fórum.
O Livro de Apoio inclui o seguinte:
Propostas de resolução de todas as questões de revisão e de discussão
Fichas de avaliação sumativa, com propostas de resolução
Planificações aula a aula
Guia de Percursos
Orientações sobre avaliação
O Caderno do Estudante, oferecido ao aluno, inclui o seguinte:
Orientações para responder aos exercícios do manual
Orientações sobre como se abordam textos filosóficos
Exemplos de ensaios de estudantes
Elementos de história da arte
Elementos de história das religiões
15 textos complementares, com propostas de tarefas
Cronologia filosófica
Autores
Os autores são professores e investigadores de filosofia, tendo publicado inúmeros trabalhos, dos quais se destacam os seguintes livros:
Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos, direcção de João Branquinho, Desidério Murcho e Nelson Gonçalves Gomes (Gradiva, 2001; Martins Fontes, 2006)
Textos e Problemas de Filosofia, org. de Aires Almeida e Desidério Murcho (Plátano, 2006)
Pensar Outra Vez: Filosofia, Valor e Verdade, de Desidério Murcho (Quasi, 2006)
Preparação para o Exame Nacional de Filosofia, de Pedro Galvão (Porto Editora, 2006)
Para a Renovação do Ensino da Filosofia, org. de Desidério Murcho (Plátano, 2006)
A Ética do Aborto, org. de Pedro Galvão (Dinalivro, 2005)
Dicionário Escolar de Filosofia, org. de Aires Almeida (Plátano, 2003)
O Lugar da Lógica na Filosofia, de Desidério Murcho (Didáctica Editora, 2003)
Renovar o Ensino da Filosofia, org. de Desidério Murcho (Gradiva, 2003)
Avaliação das Aprendizagens em Filosofia: 10.º e 11.º Anos, de Aires Almeida e António Paulo Costa (Departamento do Ensino Secundário do ME, 2002)
Essencialismo Naturalizado: Aspectos da Metafísica da Modalidade, de Desidério Murcho (Angelus Novus, 2002)
A Natureza da Filosofia e o seu Ensino, de Desidério Murcho (Didáctica Editora, 2002)
Por que somos um país de "doutores"? Porque não somos um país de doutores. Não há nisto contradição, a diferença está nas aspas
É tão português quanto a sardinha assada, a roupa à janela ou "passar pelas brasas". Para um inglês, muito provavelmente, a expressão "I"m going to go through the heats" faz tanto sentido como ter "Dr." ("doctor") impresso no cartão de crédito antes do nome. Ou seja, sentido nenhum.
O "senhor doutor", como o pastel de nata ou o fado, é uma especificidade do "ser português" - ou, pelo menos, assim surge consagrado no livro Nacional e Transmissível de Eduardo Prado Coelho (2006, edição Guerra e Paz). O "senhor doutor", em todas suas possíveis gradações (incluindo o não menos valorizado "senhor engenheiro), não é mera figura de retórica universitária: ele saiu da academia e permeou toda a sociedade, os nossos bairros, engrossou as filas nos bancos (alguém a protestar porque pediu que o seu nome viesse com "dr." e nada; um título no cartão multibanco é tão simples de pedir como o acompanhamento de um bife no restaurante), passou-nos à frente nas repartições, está na ponta da língua da secretária da direcção que nos atende o telefone: "Bom dia, é possível falar com X?" "O senhor doutor X...?", corrige ela, prontamente, como quem diz "mais respeitinho" e sabemos que a falta de reverência pode ter sido decisivo para nunca chegarmos à fala com X - perdão: senhor doutor X. O historiador Rui Tavares inventou um nome para isso, numa recente crónica no PÚBLICO: "titulocracia". A recente polémica em torno da licenciatura do engenheiro-não-engenheiro José Sócrates veio lembrar-nos a importância do que chamamos às pessoas quando não as chamamos (apenas) pelo nome. Veio lembrar-nos que somos um país de "doutores" e "engenheiros", nem todos legítimos (mas, porventura, não exactamente ilegítimos, já que podemos escolher a forma como queremos ser tratados num impresso bancário sem que ninguém nos peça habilitações), um país onde o aparato da forma de tratamento denuncia o nosso sentido das aparências. Num bar do bairro lisboeta da Ajuda, onde vive a escritora Maria Velho da Costa, "quando não se sabe o que o cliente é, diz-se "o senhor doutor" ou "a senhora doutora"". É "uma forma de demonstrar respeito", prática antiga comprometida pelo perigo de extinção do comércio tradicional. Porque é que em Portugal existe uma veneração pelos títulos académicos que qualquer pessoa com um bocadinho de mundo não encontra lá fora? Por que somos um país de "doutores"? "É porque não somos um país de doutores", responde o sociólogo Manuel Villaverde Cabral. "Somos um país onde os diplomas universitários e os estudos em geral são um bem muito escasso. Que foi escassíssimo durante muito tempo. Temos os níveis de escolaridade mais baixos da Europa - de longe." Não é o único a pensar assim. Maria Manuel Mota, 35 anos, investigadora do Instituto de Medicina Molecular com doutoramento feito em Londres e pós-doutoramento em Nova Iorque - que lhe deram, também, um currículo em informalidade anglo-saxónica -, nota que "fomos um país sem educação durante muitos anos, estamos a dar os primeiros passos". É como que um deslumbramento nosso, isto do "senhor doutor"? "É isso. É um bocado novo-riquismo." O "doutor" democratizou-se João de Pina Cabral, antropólogo especializado em identidade social e pessoal, define os títulos académicos como "símbolos de um novo estatuto burguês", a par dos "casamentos pomposos, os BMWs pretos, as gravatas brilhantes, os cabelos louros, as férias no Brasil..." A sua linhagem histórica remonta aos "processos de constituição e de chegada ao poder da burguesia nos meados do século XIX". Acontece que, com a massificação do ensino universitário privado em Portugal, nas décadas 80 e 90 - "em que milhares e milhares de pessoas, cujos pais eram oriundos de meios mais ou menos populares, social e culturalmente oprimidos, tiveram acesso a formas de vida que eles identificam como burguesas, com o correspondente estatuto social" - o "doutor" democratizou-se, banalizou-se. Dito de outro modo: "ser "doutor" já não chega", hoje, para distinguir alguém. Sim, mas "ainda serve para muita coisa", diz o filósofo José Gil, autor de Portugal Hoje: O Medo de Existir (2004, ed. Relógio d"Água). "Se eu tratar alguém por "doutor" ele adquire uma aura de poder. Vou adaptar os meus códigos de gesto e de fala relativamente ao título. O nome não diz nada, "José Gil" não diz nada." Quando regressou de Paris, onde viveu e leccionou filosofia durante anos, "não estava realmente habituado" a que o tratassem por "doutor", o que, em Portugal, acontecia "a cada instante", fazendo José Gil sentir "quase uma espécie de vergonha". "Até que percebi que, se eu dissesse "José Gil", esperava horas. E se dissesse "senhor professor", a coisa resolvia-se imediatamente." O que leva o filósofo a dizer: "É uma relação mágica que se estabelece com a pessoa". "É raro pensarmos explicitamente sobre o assunto, são esquemas de significado que nós operamos de forma subconsciente", diz João de Pina Cabral, mas que faz diferença, faz. "A verdade é que quando uma pessoa me chama "senhor João" e não "professor" ou "doutor Pina Cabral", eu não deixo de reparar que isso está a acontecer. Que essa pessoa está a dizer qualquer coisa com a forma como optou por me chamar." Um banco português costuma ou, pelo menos, costumava presentear os seus clientes com "Dr." no cartão multibanco, mesmo que estes não o tivessem solicitado. "Pode ser uma maneira de valorizar a pessoa em questão", sugere o porta-voz de outra instituição bancária (e depois, se é certo alguém pedir novo cartão por omissão, é menos certo fazê-lo por excesso de diligência). De Tony ao Prof. Cavaco A importância do título é visível, desde logo, na classe política. Em França, o Presidente da República é tratado por "monsieur le président" ou "monsieur Chirac", o equivalente a "senhor" em português. Em Inglaterra idem aspas: "Ninguém se lembraria de chamar ao Blair "doctor"", nota Manuel Villaverde Cabral. (Mais: o primeiro-ministro inglês é Tony, do mais familiar que pode haver). Em Portugal, por contraste, diz-se "Professor Marcelo" ou "Professor Cavaco", diz Villaverde Cabral, "como se isso acrescentasse uma mais-valia". Segundo o sociólogo, isso denota "a pouca valorização", entre nós, do político profissional e da classe política em geral. Ou seja, o título académico é uma forma de compensar o "menor respeito" que o "imaginário colectivo" tem pela classe política, notabiliza-a. Daí a "prevalência de uma classe política portuguesa com uma qualificação enorme, exagerada, quase anormal por comparação com outros países", conclui Villaverde Cabral. Maria Manuel Mota assina "Maria" no fim do seu mail. Quando alguém lhe chama "doutora", ela faz questão de dizer - "talvez porque tenha trabalhado fora" - "pode tratar-me por Maria". "Em Inglaterra, o director do instituto [National Institute for Medical Research, onde completou o doutoramento em 1998] era "Sir". Eu era mera aluna e nem sequer trabalhava directamente com ele, mas para nós ele era o "Keith" [Peters] como eu era para ele a "Maria"." Seja "Sir" seja Prémio Nobel (como o marido dela pôde comprovar), o tratamento preferencial nos países anglo-saxónicos é o nome próprio ou o "you". A língua ajuda: o "you" serve para tudo, trato formal ou informal, com ou sem protocolo. Sinal de sofisticação, de simplificação democrática, nota Eduardo Prado Coelho no seu livro. Maria Velho da Costa lembra que, nos seus tempos de leitora de português no King"s College em Londres, na década de 80, "os alunos tinham imensa dificuldade em perceber as várias fórmulas de addresse" existentes na língua portuguesa. Você, tu, o senhor, vossa excelência, senhor doutor, senhor professor, senhor engenheiro, excelentíssimo senhor, sôtor, senhora dona... Como explicar a um não-português a diplomacia linguística portuguesa, as suas possibilidades caprichosas? Como explicar-lhe, por exemplo, o sentido de chamar "engenheiro" a alguém que não pratica engenharia? É, sobretudo, uma imensa variedade, essa "altíssima e subtil gama" de formas de tratamento que Maria Velho da Costa aponta como uma singularidade portuguesa. "Pelo menos, todos os estrangeiros sentem isso", corrobora o linguista Ivo Castro. "Talvez conservemos formas de tratamento muito subtis que sociedades mais igualitárias não sabem usar." Mas a culpa não é da língua. "É a sociedade que tem uma sensibilidade para compartimentações e desníveis sociais que outras sociedades não têm. Para dizer aos outros em que ponto da sociedade é que achamos que eles estão em relação a nós." Tantos médicos! Sem mapa nem manual, um estrangeiro pode perder-se nas fórmulas portuguesas de tratar o outro - e podemos presumir que um nativo também se perde. Prado Coelho narra uma história exemplar em Nacional e Transmissível: "Durante a preparação de uma Comissão Mista, lembro-me de apresentar aos franceses a lista dos participantes portugueses, recheada de ilustres doutores, e um deles comentar: "Tantos médicos!" Tive de lhe explicar que médicos não havia nenhum." João de Pina Cabral diz que "para os estrangeiros que vêm da Europa do Norte, e sobretudo para os anglo-saxónicos, o que é estranho em Portugal é que praticamente todas as pessoas que eles encontram são "doutor", "engenheiro" ou "arquitecto". Somos como a Itália, há um certo populismo nisso, que os anglo-saxónicos vêem como distintamente ridículo. É que eles também dão muita importância aos títulos - aliás, posso até dizer que dão mais que nós: para os americanos e os ingleses só muito poucas pessoas é que têm direito ao uso dos títulos académicos de "doutor" ou "professor". Em Inglaterra, só mesmo os professores catedráticos no topo da carreira é que usam este último título, não basta ter uma pós-graduação. Já no Brasil é ao contrário: tudo o que é patrão leva "doutor"..." Já os Estados Unidos, nota Maria Mota, têm "uma cultura muito pragmática". "Não é importante ter tirado o curso xis mas aquilo que a pessoa atingiu na vida. É muito normal conhecermos um americano e daí a não sei quantos minutos estarmos a discutir quanto é que cada um ganha." Entretanto, em Portugal, levamos mais tempo do que isso só a escrever um mail. "É muito mais fácil mandar um mail a alguém que possa tratar por tu. A formalidade implica perder mais tempo", diz a bióloga. "Às tantas não podemos dizer o que queremos dizer apenas numa frase, temos de ser mais formais. Não é uma coisa natural, tenho de pensar como devo tratar a outra pessoa." Há uma fotografia por debaixo de "Senhor Doutor" no livro-álbum de Prado Coelho. É uma caixa de graxa.
Jornal Público, 19 de Abril de 2007
Kathleen Gomes
Apesar de não directamente relacionado com o tema de «A Filosofia no Ensino Secundário», não resisti a publicar este interessante texto do Jornal "Público".
Hoje, entre as 17 e as 19horas, no programa «Madeira em Directo» da RTP Madeira, apresentação do projecto ZarcoSofia, a revista, a Filosofia Para Crianças, a biblioteca on line e esclarecimentos vários sobre a importância da Filosofia.
Com a presença de professores e alunos da Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco - Funchal.
Destinatários: Professores de todos os graus de ensino (máximo 20/ mínimo 15)
Informação: Esta acção habilita os/as formandos/as a leccionarem o programa de Filosofia para Crianças como actividade de complemento curricular em escolas do 1º ciclo.
A sua aplicação facilita também as áreas de Formação Cívica, Área de Projecto e as aulas de Filosofia (10º e 11º anos).
Porque é que o eduquês quer acabar com a Filosofia no nosso ensino? Pense por si, com esta nova edição revista e actualizada, de uma das melhores introduções à filosofia existentes na bibliografia internacional.
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Blog de divulgação da filosofia e do seu ensino no sistema de ensino português. O blog pretende constituir uma pequena introdução à filosofia e aos seus problemas, divulgando livros e iniciativas relacionadas com a filosofia e recorrendo a uma linguagem pouco técnica, simples e despretensiosa mas rigorosa.