Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Filosofia no Ensino Secundário

Novidades editoriais de interesse para estudantes e professores de Filosofia.

A Filosofia no Ensino Secundário

Novidades editoriais de interesse para estudantes e professores de Filosofia.

Relato de uma experiência na sala de aula com manuais

Hoje fiz uma experiência com manuais na sala de aula. Queria saber qual o manual pelo qual os alunos aprendem melhor. Como é uma turma pequena do 11.º ano, dividi-a em dois grupos de trabalho e pedi que lessem e explicassem em que consiste o argumento da regressão infinita e qual a sua relação com o fundacionismo. No grupo 1 coloquei os alunos a trabalhar com o manual adoptado na escola na qual lecciono, de Luís Rodrigues, Júlio Sameiro e Álvaro Nunes, Plátano Editora. No grupo 2 coloquei os alunos a trabalhar com o Arte de Pensar, Didáctica Editora. Os resultados foram impressionantemente diferentes. Os alunos do grupo 2, que trabalharam com o Arte apresentaram as noções e teorias de forma clara e objectiva, ao passo que os alunos do grupo 1 baralharam as noções e apresentaram as teorias com maiores limitações.
Não pretendo desconsiderar o bom trabalho que Luís Rodrigues, Júlio Sameiro e Álvaro Nunes desenvolveram com o seu manual, mas esta pequena experiência leva-me a concluir que o Arte é um manual didacticamente muito acertado.
Faço o convite aos colegas que repitam esta minha experiência e que tirem as suas conclusões.
Para terminar deixo somente um caso:
No manual de L. Rodrigues, J. Sameiro e A. Nunes, página 200, a distinção entre crença básica e não aparece assim:
 
Crenças fundacionais: crenças justificadas independentemente da sua relação com outras crenças (crenças não inferencialmente justificadas);
 
Crenças não fundacionais: crenças justificadas por intermédio da sua relação com as crenças fundacionais (crenças inferencialmente justificadas).
 
Referindo-se à mesma distinção, o Arte apresenta assim, página 116:
 
A crença é básica se não é justificada por outras crenças.
A crença é não básica se é justificada por outras crenças.
 
Este é um pequeno exemplo das diferenças de linguagem que, no caso, entre dois manuais que considero bons para o professor, para os alunos, um é melhor que o outro. Concluo que a diferença é de linguagem e didáctica porque, em rigor de compreensão de conceitos, não se perde uma pitada.
 
No final foram os alunos que atestaram que aprenderam melhor pelo Arte de Pensar.
 
 
Rolando Almeida

ZarcoSofia em divulgação na Rádio

ZarcoSofia em divulgação na Rádio
Rádio Jornal da Madeira, 88.1 FM., no dia 27-01-2007.

Ouvir em:

http://www01.madeira-edu.pt/estabensino/ebsgz/NOTICIAS/zarcosofiaentrevista.htm

Agradeço a colaboração gentil da aluna Clara Jasmins, 11º 1, por ter gravado a entrevista.

Agradeço ao colega, Professor Vitório pelo excelente trabalho no site da Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco. Agradeço ainda à Rádio Jornal da Madeira e à Jornalista Jacinta Rodrigues pela oportunidade dada.

No próximo Sábado ouviremos a parte mais longa da entrevista.

Reflexão Crítica. porquê?

Criámos uma civilização global na qual os elementos fundamentais - os transportes, as comunicações e todas as outras indústrias, a agricultura,a medicina, a educação, as diversões, a protecção do meio ambiente e até a instituição democrática fundamental das eleições - dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também dispusemos as coisas de tal modo que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia. Isto é uma receita para a catástrofe. Podemos continuar durante algum tempo, mas, mais cedo ou mais tarde, esta mistura explosiva de ignorância e de poder vai rebentar-nos na cara.

Carl Sagan

Os perigos do pensamento mágico e pseudociência

Há todos os tipos de pseudociência. Estes simulam usar os métodos e as descobertas da ciência, quando, na realidade, são desleais para com a sua natureza – muitas vezes porque se baseiam em provas insuficientes ou ignoram pistas que apontam noutro sentido. Jogam com a credulidade. Com a cooperação desinformada (e muitas vezes com a conivência cínica) de jornais, revistas, editores, rádio, televisão, produtores cinematográficos e outros, tais ideias são fáceis de generalizar. Muito mais difíceis de abordar (…) são as descobertas da ciência, mais surpreendentes, mas que representam um maior desafio.
      A pseudociência é mais fácil de forjar do que a ciência, pois os confrontos com a realidade – quando não podemos controlar o desfecho da comparação – são mais fáceis de evitar. Os padrões da argumentação, que passam por provas, são muito menos rígidos. Em parte pelas mesmas razões, é muito mais fácil apresentar a pseudociência ao público comum do que a ciência. Mas isto não basta para explicar a sua popularidade.
     É natural que as pessoas experimentem vários sistemas de crença para verem o que mais convém para as ajudar. E, se estivermos muito desesperados, dispomo-nos a abandonar o que pode ser considerado o fardo pesado do cepticismo. A pseudociência dirige-se a necessidades emocionais fortíssimas que a ciência muitas vezes deixa sem resposta. Fornece fantasias sobre poderes pessoais que não temos e que desejamos possuir (como os que, nos nossos dias, são atribuídos aos super heróis das histórias aos quadradinhos e antigamente eram atribuídos aos deuses). Em algumas das suas manifestações oferece a satisfação da fome espiritual, curas para doenças, promessas de que a morte não é o fim. Tranquiliza-nos, garantindo que ocupamos um lugar central e importante no cosmo. Assegura-nos de que estamos indissoluvelmente ligados ao universo. Por vezes é uma espécie de albergue a meio caminho entre a antiga religião e a nova ciência, olhada por ambas com desconfiança.
 
Carl Sagan, Um mundo infestado de demónios, Gradiva, 2002, p.29

A biografia de uma especulação científica

Normalmente designa-se por especulação algo com que não se concorda, pelo que se poderia pensar que a especulação não tem qualquer papel a desempenhar em ciência. Na verdade, dá-se exactamente o contrário. Em física teórica, e especialmente no meu ramo, a cosmologia, passamos a maior parte do tempo a tentar descobrir falhas nas teorias que já existem, bem como a analisar novas teorias especulativas que porventura permitam descrever tão bem ou melhor que as anteriores os dados experimentais. Pagam-nos para duvidar de tudo o que os outros propuseram antes, para propormos nós próprios alternativas ousadas e para discutirmos interminavelmente entre nós.

(…)

Especular é imensamente divertido, especialmente quando, ao fim de muita discussão e de termos convencido todos os que nos rodeiam da correcção do que afirmámos, de súbito nos damos conta de que há uma qualquer falha embaraçosamente simples que invalida a nossa especulação e de que estivemos por isso a induzir toda a gente em erro durante uma hora – ou vice versa: que nos deixámos levar como crianças por outra pessoa cuja especulação era igualmente inválida

 

João Magueijo, Mais rápido que a luz, a biografia de uma especulação científica, Gradiva, 2004, p.8-9

 

 

Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa FCT/União Latina 2004

 

Informação - 200 Visitas

     Como já repararam coloquei recentemente um contador de visitas no meu blog. Está colocado faz mais ou menos duas semanas. Contando que as minhas entradas no blog não são marcadas no contador, apesar de ter cometido a aldrabice de começar pelo número 1000, verifico que o blog conta já com mais de 200 visitas, o que, para mim, autor do blog, é número muito elevado. A Internet tem esta possibilidade. Ainda assim queria aqui, na primeira pessoa esclarecer um ou outro ponto. Como professor de filosofia do ensino secundário público, entendo que devo divulgar a filosofia e a ciência aos meus alunos. Nunca fui filósofo ou especialista em qualquer matéria. Tenho uma formação base e, quando terminei o meu curso, logo percebi que o mesmo somente tinha constituído uma porta de entrada para uma investigação que duraria a vida inteira, pelo menos enquanto a saúde e lucidez o permitir. O blog é um substituto dos meus antigos blocos de apontamentos que transportava na pasta para as minhas aulas, com dezenas de citações de obras que fui lendo ou pequenas considerações pessoais, sempre que me atrevia a objectar as posições de um filósofo. Recordo que sempre objectei o argumento fundacionista de René Descartes na justificação do ente perfeito que é deus. O blog começou pela curiosidade em, pura e simplesmente, fazer um blog. Quando o fiz, pensei o que nele iria abordar. Música? Literatura? Resolvi que o blog era algo mais que o meu bloco de apontamentos, uma forma de comunicar mais extensa, mesmo para além da sala de aula. Resolvi na altura desafiar um problema: a ética aplicada, fruto das minhas leituras há um ano atrás. Esse foi, aliás, o post inicial. Hoje, o blog, está mais além da ética e pode passar pela filosofia política, estética ou lógica. Passei a assumir que o blog pode ter uma finalidade mais profissional, a da divulgação da filosofia, principalmente, aos meus alunos e todos os alunos de filosofia de nível secundário. Por esta razão principal o blog não é propriamente um espaço de discussão pública dos argumentos dos filósofos, mas mais um espaço em que divulgo a bibliografia que me vou dando conta com interesse para a prática profissional de um professor e para a curiosidade de um jovem de 15 ou 16 anos. Entretanto tenho a honra de ter publicado já um ou outro artigo mais sofisticado, como o caso dos artigos de José Caselas que amavelmente deu um precioso contributo ao enviar-me os seus textos para publicação, assumindo leituras personalizadas sobre os problemas filosóficos de seu interesse e que possam vir a interessar os demais. Um número de visitas superior a 200 não é razão para qualquer celebração, mas é força para maiores investimentos na divulgação da filosofia ao nível do ensino secundário.      Motivado por este número inicio-me na construção de um sítio web e dei um prazo até final do ano de 2007 para, sozinho, poder apresentar um. A vantagem do sítio web em relação ao blog é que poderei melhor organizar o arquivo e poderei apostar em artigos mais extensos e personalizados. A intenção é sempre a mesma: divulgar a filosofia a alunos do secundário, mostrá-la de forma clara e atractiva e, sempre que possível, publicar os seus primeiros ensaios de filosofia. Continuarei, como sempre, a divulgar os livros que compro e leio. Esta é, creio, a melhor regra do blog, não divulgo livros que não leio. Todos os livros divulgados estão na minha biblioteca pessoal.

     Claro que todo o trabalho tornado público está sujeito à crítica e ela é desejável desde que tenha sempre um enquadramento racional e argumentativo. Recentemente publiquei um pequeno texto pessoal sobre o manual escolar, A Arte de Pensar. E fi-lo pelas razões expostas e que aqui, mais uma vez, sublinho: estou em crer que o Arte constitui um primeiro passo para uma nova forma de olhar a concepção dos manuais escolares de filosofia do ensino secundário.

     O melhor reconhecimento do blog é que os alunos e interessados possam visitá-lo. Para tal ganhei um incentivo pessoal: tenho de ler ainda mais, interessar-me, talvez, por problemas mais diversificados. Mas igualmente importante é o reconhecimento institucional e ele acontece pela ligação feita a partir da página da Sociedade Portuguesa de Filosofia (ver ligações: http://www.spfil.pt/) e pela Crítica (www.criticanarede.com), que é o maior arquivo português de filosofia on line. Um reconhecimento que agradeço e procuro retribuir com a divulgação que a filosofia merece e com o meu trabalho.

     Finalmente, após mais ou menos um ano de actividade do blog, agradeço a todos aqueles que o visitam, que me escrevem a pedir uma ou outra sugestão de leitura a partir dos posts e faço um convite à participação de todos.

     Todos os erros e imperfeições são da minha responsabilidade.

Rolando Almeida

Arte de Pensar, um manual diferente e inovador

O Arte de Pensar (AdP) chega às nossas mãos, professores e alunos, como uma clara revolução na forma como se concebem e escrevem manuais escolares.  Tantas vezes ouvimos falar em excelência na educação com reformas afins, sem que se vejam resultados práticos dignos de registo. Talvez isto aconteça porque se pretende implementar reformas no sistema educativo, sem que essas reformas impliquem esforço, trabalho ou novas orientações e modelos didácticos. E assim andamos numa ilusão de mudança contrariada pelos maus resultados obtidos junto dos nossos congéneres europeus.

O AdP é a prova de que a mudança no sistema educativo e a viragem nos nossos maus resultados passa inevitavelmente por fazer bons programas e melhores manuais. Se a preocupação é a de que os nossos alunos aprendam com gosto e rigor, é nos conteúdos do que lhes queremos ensinar que devemos começar por mexer. E mexer bem para não andar sempre a mexer!

Por vezes passa-se a ideia de que exigência é ensinar conteúdos muito difíceis. Mas o critério da exigência está ligado ao didáctico. O AdP é um manual exigente porque é cientificamente acertado, rigoroso e actual, propondo nomes e problemas da investigação filosófica que se faz hoje em dia. Mas não se pense que o AdP expõe o que os outros pensaram de modo históricista e nada mais. Pelo contrário, o AdP é um laboratório vivo de filosofia. Por ele e com ele, o aluno aprende a pensar porque é sistematicamente confrontado com as teorias e problemas da filosofia. Não é de estranhar que um manual desta natureza acabe por criar algumas resistências iniciais. Ele é claramente inovador do ponto de vista didáctico e ainda não possui qualquer concorrente directo, ainda que outros já se aproximem deste modelo, mas ainda muito entre a “velha guarda” e a “nova vaga”. Na verdade a maior novidade no AdP é que, com ele, ensinamos de facto os nossos alunos a pensar. Depois, porque o manual é muito pragmático em todos os sentidos, bem escrito e filosoficamente rico, eliminando as arbitrariedades e incoerências habituais, além de que, a concepção gráfica (da responsabilidade dos autores) é uma lição final para quem faz manuais. As imagens são adequadas e pertinentes e está longe do folclore a que as editoras nos vem habituando nos últimos anos. O AdP é intuitivamente compreensível em todos os sentidos. Se o rosto é a expressão da alma, no caso, é-o mesmo, ele é leve, fácil de transportar e está lá tudo o que o estudante jovem de filosofia necessita para um bom estudo nas aulas. Além do mais, o AdP respeita a tradição filosófica.

Claro está que para apreciar em definitivo as potencialidades de um manual é necessário experimentá-lo em sala de aula. Com efeito, quando li pela primeira vez o AdP percebi que é uma novidade na forma como se concebe um manual de filosofia e tanta resistência só acontece porque é preciso tempo e esforço para que o professor se aperceba das potencialidades curriculares do AdP.

Claro está que o AdP deve possuir as suas limitações (que eu não encontro com facilidade), mas é inegável a sua forma inovadora para o ensino da filosofia. Penso até que pode ser exemplo para outras disciplinas.

Um pequeno exemplo. No capítulo 4 do Arte 11, Estrutura do acto de conhecer, para explicar a constituição de crença no conhecimento, encontramos (p.97):

 

«Imagine-se que a professora de matemática do João lhe perguntava qual a raiz quadrada de quatro. Imagine-se que ele achava que era dois, mas não tinha a certeza. Será que ele sabia qual é a raiz quadrada de quatro ou será que apenas teve sorte ao acertar na resposta? Para haver conhecimento uma pessoa não pode apenas ter sorte em acreditar no que é efectivamente verdade; tem de haver algo mais que distinga conhecimento da mera crença verdadeira. Para haver conhecimento, aquilo em que acreditamos tem de ser verdade, mas podemos acreditar em coisas  verdadeiras  sem saber realmente que são verdadeiras. Portanto, nem todas as crenças verdadeiras são conhecimento. Por outras palavras:

 

A crença verdadeira não é suficiente para o conhecimento. »

 

Antes desta explicação, os autores do manual escreveram um pequeno diálogo onde o problema é apresentado para, no final, incluir o texto de Platão onde o problema do conhecimento como Crença Verdadeira Justificada é apresentado, e  finalizar ainda com a contra argumentação de Gettier. E o AdP está cheio desta felicidade que é aprender filosofia com rigor, método, numa linguagem clara, sem os terror verbal que por vezes é cultivado na filosofia. Só lamento uma coisa: não poder voltar a ser aluno para começar a dar os meus primeiros passos na filosofia com o Arde de Pensar.

Parabéns aos autores. São responsáveis pela excelência no ensino da filosofia.

Este é um manual que merece estar ao lado dos nossos melhores livros.

O manual é publicado com o apoio do Centro para o Ensino da Filosofia da Sociedade Portuguesa de Filosofia.

 

 

Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, Arte de Pensar 10 e 11, Didáctica Editora, 2004


 

Rolando Almeida

 Este texto foi também publicado em:

 http://www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/

 

 

Curiosidade Apaixonada

Porque fazemos distinções entre ciências naturais ou exactas e ciências humanas? Faz sentido esta divisão? Que dizer, então, de um filósofo como Descartes que, além de filósofo, foi matemático? Ou de Kant que foi cientista e astrónomo? Será o conhecimento assim tão dividido?

Carlos Fiolhais, físico português da Universidade de Coimbra, refere que entre letras e ciências existe a lua pelo meio. Este é, na verdade o ímpeto para compreendermos que o conhecimento é curiosidade apaixonada. É por essa razão que o livro com título inspirado em Einstein, aborda experiências que vão da literatura às viagens, cinema e peças de teatro. O livro recolhe várias crónicas e ensaios que estavam “avulsas” nas páginas do jornal portuense Primeiro de Janeiro.

Mas a curiosidade apaixonada, por vezes, como no caso português, possui obstáculos institucionais indesejáveis. Por essa razão o autor discorre também sobre o estado da educação em Portugal e os nossos maus resultados face aos restantes países europeus.

Mais que uma reflexão, trata-se do relato de uma experiência de vida, movida por uma curiosidade apaixonada. E não existe conhecimento sem filo-sofia, amor pelo saber, curiosidade apaixonada.

 

Carlos Fiolhais, Curiosidade Apaixonada, Gradiva, 2005

 

Rolando Almeida

Ensaio sobre os direitos dos animais

Segundo Peter Singer, todos os seres sencientes têm interesses morais e consequentemente direitos. Uma vez que os animais não humanos têm a capacidade de sentir dor e prazer e a percepção do que os rodeia, então estes têm direitos tal como a espécie humana.

Assim pertencemos todos, humanos e animais não humanos, a uma comunidade moral onde os interesses de uma espécie não são mais importantes que os da outra espécie. Tom Regan apresenta uma distinção entre as espécies, uma vez que os primeiros são capazes de aplicar princípios morais e por isso denomina-os de agentes morais, enquanto que os segundos, em conjunto com os humanos com algum atraso, são caracterizados por pacientes morais.

Aqui surgem as complicações, visto que todos os anos são mortos biliões de animais para fins alimentares, e outros tantos milhões para experiências ligadas à medicina ou cosmética, já para não falar no uso de peles para vestuário.

Peter Singer afirma que sacrificamos os interesses mais importantes de outros seres, neste caso a sua própria vida, de modo a satisfazer interesses menores da nossa espécie.

A minha posição em relação a esta temática é semelhante à destes dois autores, embora com algumas alterações que passo a explicar:

Faz parte do equilíbrio do planeta a existência de cadeias alimentares de vários tipos.

O Homem é por excelência um ser omnívoro e por isso come carne, vegetais, frutos, cereais e outros tantos produtos que a natureza oferece. Não é possível negar que isto causa sofrimento nos animais que são mortos para saciar a nossa fome, mas por exemplo, um animal como o leão mata uma corça para se alimentar e esta também sofre. Simplesmente ninguém “teima” com o leão para deixar de ser carnívoro e substituir a corça por uns rebentos de soja ou alfaces. É óbvio que este é um exagero, já que o leão não tem capacidade de aplicar princípios morais. No entanto, serve para explicar que se os animais forem mortos apenas consoante as necessidades alimentares do Homem, o planeta permanece em equilíbrio. Uma vez que não se trata apenas de uma questão de respeito pelos direitos dos animais, mas sim do que chamamos de luta pela sobrevivência.

As experiências em laboratório ligadas a descobertas medicinais podem ser moralmente correctas se aplicarmos um princípio de John Stuart Mill que diz “o maior bem para o maior número de pessoas”. Neste caso, estas descobertas podem ser úteis não só para os humanos como também para outras espécies que são atacadas pelo mesmo vírus ou bactéria, ou seja, sacrifica-se um animal para salvar muitos mais.

Relativamente às experiências ligadas à cosmética e afins, concordo com Peter Singer e Tom Regan, uma vez que se tratam de interesses humanos extremamente secundários, além de que existem já soluções alternativas para efectuar estes testes.

O sacrifício de animais para o uso da sua pele em vestuário é para mim um acto de crueldade extrema, porque existem muitas outras opções de material como por exemplo o algodão ou o linho, que são produtos vegetais e que podem perfeitamente ser utilizados para este fim com a vantagem de poderem ser extraídos sem consequências para a planta. No caso do algodoeiro, este não morre por se retirar a sua flor e, no caso do linho, este só é utilizado após a morte “natural” da planta.

O uso de animais para entretenimento é simplesmente um desrespeito autêntico à dignidade do animal e uma directa manifestação de especismo, já que o objectivo é mostrar a pseudo-superioridade do Homem em relação ao animal.

Posto isto, defendo que os animais devem usufruir de direitos como os humanos, embora respeitando a lei da natureza no que toca às cadeias alimentares e, seguindo uma ética utilitarista implementada por Stuart Mill, as experiências para fins medicinais podem ser moralmente correctas, desde que se mantenha a dignidade dos animais e se assegure condições para reduzir ao máximo o seu sofrimento.

 

Bibliografia:

 

RODRIGUES, Luís; SAMEIRO, Júlio; NUNES, Álvaro, Filosofia 11º Ano, Plátano Editora, 3ª Edição, Junho 2005, pp. 286-293

 

Ensaio elaborado por:

Clara Jasmins

Nº5     11º1 - Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco - 2007

Pág. 1/2

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Blog de divulgação da filosofia e do seu ensino no sistema de ensino português. O blog pretende constituir uma pequena introdução à filosofia e aos seus problemas, divulgando livros e iniciativas relacionadas com a filosofia e recorrendo a uma linguagem pouco técnica, simples e despretensiosa mas rigorosa.

Arquivo

  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2008
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2007
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2006
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D