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A Filosofia no Ensino Secundário

Novidades editoriais de interesse para estudantes e professores de Filosofia.

A Filosofia no Ensino Secundário

Novidades editoriais de interesse para estudantes e professores de Filosofia.

Saúdo os meus alunos

Olá,

Vejo que os meus alunos andam a navegar nisto dos blogs e, com isso, a revelar determinado gosto pela escrita que, infelizmente, nem sempre revelaram durante o ano lectivo. Mas esperem! Provavelmente posso sempre afectar a hipótese de que, durante o ano, desenvolveram as suas capacidades para as revelarem agora, por exemplo, nesta iniciativa. Nem quero acreditar! Será que a filosofia é uma disciplina muito mais importante do que até penso, para os jovens neófitos?? Bem, sinto-me um aluno dos meus próprios alunos e estou com o pensamento cheio de questões inquietantes! Porque teriam eles agora disparado a criar blogs?Será por estarem de férias? Ou será mesmo verdade que a filosofia teve um poder tal na sua formação de jovens criadores de ideias e inventores de pensamentos? Seja lá o que for, o certo é que eles estão a dar a cara com textos, pensamentos, poemas, enfim, actos de criação pessoal. E se eu tivesse de os avaliar também pelos Blogs? De uma coisa posso estar certo, a saber, dar-lhes-ia notas elevadas.

Alunos, Amigos, escrevam, pensem, criem, contraponham argumentos (filosofia, hein??)... desbundem, mas não deixem nunca morrer essa necessidade de aprender e contactar com o outro. Abri este post no meu Blog para vos mandar um grande abraço e um incentivo maior. Vou estar atento ao que escrevem e pensam, durante muito tempo, isso vos garanto. Quanto ao meu Blog, não façam como o Renato (este rapaz sempre foi muito bem educado, nisso podem-se orgulhar) que pediu desculpa por invadir o meu Blog. Ele, tal como o vosso é um espaço de inteira liberdade, cuja regra principal é somente delimitada pelo bom senso.

Continuem rapaziada.

Eu estarei atento

Abraço

Rolando Almeida

Post Scriptum: hehe:-) Já agora.... hehe ;) porque não escrevem no vosso blog qualquer coisita dedicada à filosofia??? Ficava feliz :)

Reflectir no tema em causa

Só devemos estar dispostos a debater publicamente um determinado tema se tivermos reflctido de forma razoavelmente sistemática no tema em causa. Se avançarmos para um debate unicamente porque temos uma ideia, faremos baixar a qualidade do debate. É preciso que além de termos uma ideia, lhe tenhamos dado alguma reflexão; é preciso que nos tenhamos perguntado se teremos realmente razão e que argumentos há contra o que defendemos. Não podemos ter a ingenuidade de pensar que só porque uma ideia é nossa é maravilhosa.

Se estes princípios elementares da discussão racional não forem ensinados nas escolas  ou nas universidades (explícita ou implicitamente, pela prática da própria discussão escolar ou académica), não serão com certeza ensinados nos jornais, na televisão ou nos corredores do parlamento. E se não forem ensinados, a discussão racional será rapidamente substituída pela sua imitação de contrabando: a manipulação.

Para distinguir a discussão racional da mera manipulação não precisamos, felizmente, de uma teoria da racionalidade – como todos os problemas centrais e fundamentais do conhecimento, saber claramente o que é a racionalidade é um problema em aberto. Uma discussão racional apela à inteligência do interlocutor e é frontal; a manipulação procura furtar-se à inteligência do interlocutor, procurando fazê-lo aceitar o que ele não aceitaria se lhe fosse dada a oportunidade para reflectir cuidadosamente.

 

Desidério Murcho, Pensar outra vez, Filosofia, Valor e Verdade, Quasi, 2006. p141

Filosofia, investigação e ensino

«"Para aqueles cujos papéis envolviam primariamente a execução de serviços, por oposição com a assunção de responsabilidades de liderança, o padrão básico parece ter sido uma resposta às obrigações invocadas pela liderança que eram concomitantes ao estatuto de membro na comunidade societal e em várias das suas unidades segmentadas. A analogia moderna mais próxima é o serviço militar executado por um cidadão comum, excepto que o líder da burocracia egípcia não precisava de uma emergência especial para evocar obrigações legítimas."

Esta complicada passagem nada mais quer dizer do que isto: "No antigo Egipto, as pessoas comuns podiam ser recrutadas para trabalhar". Este amor pela linguagem pantanosa é o sinal mais evidente da falta de amor pela verdade, da falta de curiosidade intelectual, do desprezo pelo rigor e pela simplicidade — e são estes defeitos que acabam por conduzir ao formalismo. Quando a investigação produzida é deste calibre, o ensino será do mesmo género, gerando-se um círculo vicioso muito difícil de quebrar. A linguagem pantanosa, falsamente académica, plena de neologismos inúteis, prolixa e com uma sintaxe arrevesada, além de prostituir a actividade intelectual, é incompatível com o ensino e a investigação de qualidade. Evidentemente, em nenhuma área de estudos é possível atingir o desejado grau de sofisticação e subtileza sem a introdução de uma linguagem especializada. Mas o formalismo caracteriza-se, precisamente, por pôr o mundo de pernas para o ar: em vez de a linguagem especializada estar ao serviço da precisão e sofisticação das ideias, são as ideias que estão ao serviço da exibição de uma linguagem carnavalesca. Haverá certamente razões psicológicas e sociológicas para este fenómeno; os seres humanos têm infelizmente uma origem simiesca, e os seus instintos mais básicos incluem a importância desmedida dada à hierarquia social e à ideia de superioridade. Assim, prostitui-se a actividade intelectual, que se torna apenas mais um adereço para exibir imaginadas superioridades hierárquicas, exactamente como um carro de luxo ou um anel de diamantes. É preciso resistir a este impulso, e a melhor maneira de o fazer é cultivar nas universidades o genuíno amor pela procura desinteressada da verdade, a humildade e o respeito pelas provas e pela argumentação cuidada.

Um dos papéis do professor é simplificar e apresentar aos estudantes os aspectos centrais da sua disciplina de estudos — seja ela a biologia ou a filosofia. Fazê-lo bem é crucial para o progresso da investigação. No mau ensino, não se faz uma distinção correcta entre o central e o acessório; o resultado é demorar o estudante tanto tempo a dominar o central, que quando finalmente domina suficientemente a sua área de estudos, está demasiado velho e cansado para poder investigar e descobrir. Alguém que se disponha a estudar lógica recorrendo exclusivamente aos textos de Aristóteles, Frege e Russell, por exemplo, irá demorar tanto tempo na compreensão de aspectos hoje banais da lógica, que não poderá avançar para o estudo dos desenvolvimentos recentes desta disciplina. Assim se compreende melhor o papel absolutamente central que tem um ensino de qualidade. Aristóteles provavelmente demorou anos a desenvolver a sua lógica, a compreender os conceitos relevantes e a sistematizar a sua teoria. Sabemos que Frege e Russell demoraram anos nessa tarefa. Mas hoje qualquer professor competente ensina em apenas seis meses o cálculo proposicional e de predicados, incluindo a lógica aristotélica, a estudantes de dezoito anos. E se esse ensino for realmente de qualidade, o estudante ficará preparado para, caso venha a ser investigador na área da lógica, não ter nem lacunas gritantes nem uma compreensão errada dos aspectos centrais da lógica elementar. Quando não temos bom ensino, cada investigador está na situação pouco invejável de não poder basear o seu trabalho no trabalho dos seus antecessores, porque o desconhece, ou porque o conhece mal, ou, pior, porque tem uma compreensão totalmente errada do trabalho dos seus antecessores.»

Desidério Murcho, Filosofia, investigação e ensino na universidade,

Excerto da Conferência proferida no I Congresso Internacional sobre Filosofia na Universidade (Universidade de Londrina, Brasil, 12 de Maio de 2006). Texto publicado no volume Filosofia na Universidade, org. por Adriana Mattar Maamari, António Tadeu Campos de Bairros e José Fernandes Weber (Ijuí, RS: Unijuí, 2006).

PAGAR NA MESMA MOEDA

Pode ainda parecer que não avançámos muito relativamente ao interesse próprio tacanho. Talvez o comportamento «simpático» seja vantajoso, mas, a ser assim, não serão os simpáticos apenas egoístas mais esclarecidos? Esta objecção ocorre num erro semelhante à falha de compreensão que mencionei no Capítulo 5, em relação ao altruísmo para com os familiares. Os sentimentos de amor para com os nossos irmãos e irmãs não se tornam menos genuínos por explicarmos como estes se desenvolvem ; continua a ser verdade que ajudamos os nossos irmãos porque nos preocupamos com eles, e não devido ao grau de sobreposição genética que existe entre nós. De forma semelhante, o facto de a cooperação ser a melhor política não significa que aqueles que cooperam estejam necessariamente a cooperar porque desejam obter uma vantagem. Por vezes, isto é verdade. Presumivelmente, era verdade no sistema «vive e deixa viver». Mas, por outras vezes, não será. Alguns de nós pertencerão aquele tipo de pessoas que desenvolve sentimentos de simpatia para aqueles que se mostram simpáticos para com elas.

 

Peter Singer, «Pagar na mesma moeda», Como havemos de viver?, A ética numa época de individualismo, Dina Livro, 2006 p.254

PARA ACABAR DE VEZ COM A CULTURA

Para acabar de vez com a cultura

Vivemos tempos confusos. Ou talvez não. À propagada e eterna crise económica e ao atraso crónico deste país face à média europeia, juntam-se outros factores estruturais de atraso. Alguns desses factores são, consequência ainda, das décadas de obscurantismo cultural e de mentalidades fomentado pelo Estado Novo salazarista. Em Portugal continua instalada uma cultura - na sua acepção mais lata - displicente, indigente e boçal que é preciso enumerar (para erradicar de vez):

- A cultura do comodismo e da ignorância, porque oblitera o espírito crítico e anestesia o exercício da cidadania.

- A cultura do consumismo efémero e massificado, porque cega o discernimento da realidade dos factos.

- A cultura da alienação televisiva, da novela/reality show pós-noticiário da TV e dos chinelos calçados, porque embrutece o gosto estético e louva a letargia mental.

- A cultura exageradamente hedonista e desbragada das massas estudantis, porque asselvaja a formação do cidadão.

- A cultura da maledicência: dizer mal por dizer mal só leva a um lado: à ignorância.

- A cultura da “formatação radiofónica” generalizada que subverte o conceito de serviço público e estupidifica as massas.

- A cultura do desprezo pelo êxito artístico de outrem, porque revela esse sentimento tipicamente português: a inveja.

- A cultura da intolerância e/ou menosprezo face a modelos sociais, culturais e artísticos diferentes e alternativos.

- A cultura da informação televisiva como espectáculo insano e mediatizado, porque trata o espectador como imbecil e mentalmente domesticável.

- A cultura desproporcional e eufórica que os media dedicam ao futebol, porque distrai a atenção e a análise séria das coisas realmente importantes da sociedade e da vida.

- A cultura desmedida e infecto-contagiosa da bandeira pela causa futebolística em detrimento da mobilização social para as grandes causas do país.

- A cultura do aproveitamento propagandístico e publicitário em redor da Selecção Nacional (bancos, batatas-fritas, detergentes, cervejas, seguros, autarquias, gelados, electrodomésticos, iogurtes…) esse desígnio irrepreensível do qual parece depender o futuro do país.

- A cultura da “carneirada” e do mimetismo cultural: se todos lêem o “Código Da Vinci”, eu também tenho de ler; se todos vêem o “Crime do Padre Amaro”, eu também tenho de ver; se todos vão ao Rock in Rio, eu também vou; se todos compram um modelo I-Pod da última geração, eu também compro.

- A cultura exponencial do entretenimento digital (Internet, videojogos, telemóvel, I-Pod, gadget electrónicos, Playstation).

- A cultura das pseudo-elites culturais e intelectuais tugas e suas inúteis diatribes intestinas.

- A cultura dos livros “pop-light” portugueses e da massificação aterradora dos sub-produtos (de aproveitamento comercial) do fenómeno Dan Brown.

- A cultura patética dos records nacionais para o Guiness: somos os melhores do mundo nas coisas mais fúteis - a maior feijoada, a maior bandeira, a maior tarte, a bicicleta mais comprida, o maior Bolo Rei…

- A cultura dos neo-liberais e da burguesia instalada, do imberbe jet-set, do relógio Rolex, da “Caras” debaixo do braço, do plasma na sala de jantar, das “festas sociais”, das férias no Brasil, e das opiniões saloias-sobranceiras sobre tudo e sobre nada.

- A cultura da imagem: para vingar pessoal e profissionalmente, exige-se beleza top-model, roupa fashion de costureiros, visual sofisticado, postura “yuppie” ou “blasé”, em conformidade com os modelos copiados da televisão e do cinema.

- A cultura da fama fácil, imediatista e mediática incrementada junto dos adolescentes: imposição do paradigma insidioso “morangos com açúcar” em toda uma geração.

- A cultura do “facilitismo” e do “trabalhar para a estatística”: no sistema de ensino, na política, no consumo cultural, na função pública, na vida social…

- A cultura do primado economicista em detrimento dos valores mobilizadores da sociedade: a educação, o investimento, a qualificação/profissionalização, a formação, a cultura.

- A cultura da iliteracia galopante dos jovens, adultos e idosos e consequente ausência de competências e qualificações mínimas para a exigência da vida profissional, social e cultural contemporânea.

- A cultura alarve dos pacotes de pipocas tamanho XXL e respectiva Coca-Cola nas salas de cinema.

- A cultura do fato de treino como indumentária oficial das famílias passeantes no shopping nos fins-de-semana.

- (...)

Victor Afonso

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Blog de divulgação da filosofia e do seu ensino no sistema de ensino português. O blog pretende constituir uma pequena introdução à filosofia e aos seus problemas, divulgando livros e iniciativas relacionadas com a filosofia e recorrendo a uma linguagem pouco técnica, simples e despretensiosa mas rigorosa.

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