Sistema de ensino sem chumbos
A propósito ainda do meu post anterior: Não sou defensor que se deva chumbar alunos quando eles não sabem grande coisa. Também não defendo a tese de que antigamente os estudantes aprendiam muito mais. Pelo menos a avaliar pela competência de muitos políticos, professores, médicos e advogados, entre outros profissionais dos nossos dias, posso constatar que antigamente (como se costuma chamar às duas gerações mais velhas) o ensino não era muito melhor do que é actualmente. Não me parece que a catástrofe dramática esteja toda alojada nas gerações jovens. Em muitos aspectos as novas gerações parecem-me mais aptas que as anteriores. E não defendo a ideia do chumbo sistemático dos alunos, pois não me parece que essa solução seja melhor do que a de os aguentar na escola aprendendo sempre mais alguma coisa. Qualquer sistema, o de chumbos ou a da escolaridade obrigatória sem chumbos tem consequências positivas e negativas. As mais imediatas são:
Positivas – o jovem tem de cumprir x anos de estudo, independentemente se sabe muito ou pouco, se progride rapidamente na aprendizagem ou se é mais lento. Mais vale estar na escola a aprender alguma coisa do que em casa onde, em regra, não tem as ferramentas para aprender.
Negativas – o natural desinteresse e indisciplina que daí decorre já que com um sistema sem chumbos, a luta pela nota fica grandemente afectada para um número muito grande de alunos. E a indisciplina promovida por algum sentimento de impunidade.
De todo o modo um sistema de ensino sem chumbos não implica que a escola tenha de admitir nas suas fileiras a indisciplina e o vale tudo. Não implica também, de modo algum, que os melhores não sejam premiados. Então, onde é que está o rigor de um sistema de ensino sem chumbos? Aparentemente para a maioria das pessoas um sistema de ensino sem chumbos implica a balda completa. Tal não é necessariamente verdade, ainda que se corra esse risco, do mesmo modo que se corre riscos num sistema de ensino com chumbos, por exemplo, premiando sempre os alunos socialmente mais beneficiados e que vêm ensinados de casa, em detrimento dos outros que não gozam dessa possibilidade. O rigor de um sistema de ensino sem ou com chumbos (é igual para ambos os sistemas) está nos currículos e naquilo que se ensina. E aqui é que me parece surgir o problema no sistema de ensino actual em Portugal. Pretende-se anular os chumbos dos alunos à custa de sacrificar o rigor dos programas de ensino. A consequência é termos maus manuais, professores pouco preparados, exames cada vez mais infantilizados, programas despidos de conteúdos próprios de cada disciplina. E a consequência social futura é continuarmos a ter gente incompetente, mas licenciados. Ora a finalidade de um sistema educativo não é chumbar alunos, é verdade, mas também não é o de distribuir diplomas para inglês ver. A razão da existência de um sistema educativo é primordialmente, o de formar pessoas capazes de dar contributos significativos para a comunidade. Mas isto só é possível com saber, muito saber e não conversas fiadas e brincar às escolas.