Administrativos do ensino
Segundo apanhei na internet, um relatório da OCDE conclui:
“Portugal é dos países onde os professores gastam mais tempo a manter a ordem na sala de aula e em tarefas administrativas e menos tempo a ensinar.”
(…) E a estudar, acrescento eu. Os professores fazem basicamente o que a tutela manda fazer. Esta é efectivamente a realidade que observo todos os dias. A maior parte do tempo dos professores nas escolas é passado a discutir e a tratar assuntos de ordem burocrática. Observar um grupo de professores a discutir activamente e com propriedade matérias de ensino, ideias, teorias, argumentos, é puro delírio. É tarefa de quem não tem mais nada para fazer. E isto é inteiramente verdade, os professores pura e simplesmente tem cada vez menos tempo para fazer a única coisa que lhes deve ser exigida: estudar e prepararem-se cada vez melhor. Estudar não é valorizado pelas políticas educativas, em especial a do último governo que tem sabido aprofundar esta realidade. Para que o professor estude menos (e os alunos também) e garantam ao mesmo tempo o sucesso educativo, há que: 1) acabar com os exames de disciplinas menos vistosas (como física ou filosofia) 2) tornar os exames o mais fáceis possível ( e não os programas o mais rigorosos possível – é que isto dá trabalho). Talvez se a humanidade fosse mais justa teríamos 100 mil professores na rua a protestar por mais tempo para estudarem e serem melhores professores tal como os tivemos a reclamar melhores condições profissionais. Se fosse exigido aos professores mais estudo, talvez tivéssemos um ensino baseado em conteúdos sólidos e talvez esse ensino mais entusiasmante captasse uma franja importante de alunos que se estão nas tintas para a escolês do eduquês. Talvez um dia tivéssemos melhores cientistas, médicos, professores, melhor economia e indústria, capacidade inventiva, etc. E tudo isto com um gesto tão simples: mandar os professores para casa estudar, que é a única coisa que deviam fazer para além das aulas, mas que é a única coisa que cada vez é menos exigida. E uma escola que não exige aos seus professores que estudem, é uma escola que não vai ter alunos interessados em estudar. A ideia não é ser dramático com este post, mas parece que a realidade caminha a bons passos para um ensino onde o saber, o conhecimento, a ciência, são confundidos com o saber fazer. É confundir a causa com a consequência. Na verdade defendo que nada se sabe fazer, se não se sabe pensar pela própria cabeça, se não temos produção filosófica, científica e artística.
Hoje ao final do exame de português do 12º ano os alunos na escola onde ensino diziam-me que o exame tinha sido fácil. O problema é que esta facilidade não é resultado do esforço e do estudo, mas em grande parte (mais que a desejável) é resultado do facilitismo. Ou estarei a ver mal as coisas?