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A Filosofia no Ensino Secundário

Novidades editoriais de interesse para estudantes e professores de Filosofia.

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Objecções ao argumento de S Anselmo

           

A primeira pessoa a reagir ao argumento de S. Anselmo foi o seu contemporâneo, o monge Gaunilo de Marmoutier (séc. XI). Gaunilo defendeu que o argumento não é sólido uma vez que podíamos usar o mesmo tipo de argumento para estabelecer a existência de uma série de coisas que não existem na realidade.

          

 

Como vimos, o argumento de S. Anselmo baseia-se na ideia de que a existência é uma perfeição. Ou seja, um ser que existe é mais perfeito ou maior do que um que não existe. Logo, um ser que seja supremamente perfeito tem de existir, caso contrário não seria supremamente perfeito. Segundo Gaunilo, através deste tipo de argumento podemos «estabelecer» a existência de uma ilha perfeita, ou de um bolo perfeito, ou do que quisermos. Por exemplo, se definirmos a ilha perfeita como aquela ilha «maior do que a qual nenhuma outra pode ser pensada», então, também essa ilha tem de existir na realidade, caso contrário não seria absolutamente perfeita. Mas isto é um resultado inaceitável. Logo, o argumento ontológico não funciona: não serve para estabelecer a existência de Deus.

            A objecção de Gaunilo apenas procura mostrar que o argumento não é sólido — mas não mostra onde está o erro. Fizeram-se várias propostas para identificar exactamente o que torna o argumento mau, umas mais prometedoras do que outras. Mas a ideia básica é que não se pode concluir que Deus existe pelo facto de satisfazer a descrição «aquele ser maior do que o qual nada pode ser pensado». A única coisa que podemos concluir é que, se Deus existe, satisfaz essa descrição.

            Podemos construir as descrições que quisermos. Podemos até colocar nas nossas descrições a condição de que uma certa coisa tem de existir, mas daí não se segue que haja no mundo algo que satisfaça a descrição. Por exemplo, podemos definir o amigo perfeito deste modo:

 

      Aquele amigo que está sempre disponível a ajudar-nos, que está sempre bem disposto, que nunca se aborrece com nada nem ninguém, que tem sempre algo de positivo para nos dizer, que é amigo de toda a gente, que gosta das mesmas coisas que nós e que nos leva a lanchar e ao cinema.

 

            Não é pelo facto de termos definido a amigo perfeito deste modo que ele passa a existir. E mesmo que acrescentemos à nossa definição que ele existe, ele não passa a existir por isso.

 

In A Arte de Pensar, 2007

 

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Blog de divulgação da filosofia e do seu ensino no sistema de ensino português. O blog pretende constituir uma pequena introdução à filosofia e aos seus problemas, divulgando livros e iniciativas relacionadas com a filosofia e recorrendo a uma linguagem pouco técnica, simples e despretensiosa mas rigorosa.

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