Indução, universais e companhia ltd.
Por vezes alguns colegas colocam dúvidas sobre problemas como o da indução, a natureza dos universais ou sobre a distinção entre os vários tipos de conhecimento. O que se exige ao aluno do secundário é uma versão simplificada, mas coerente, desses problemas. A verdade é que as dúvidas, regra geral, são legítimas. Se pensarmos um pouco começam a surgir dificuldades, tanto de natureza didáctica (como vou explicar isto aos estudantes?) como de natureza científica (que coerência faz isto tudo?). Para responder a parte substancial destas dúvidas temos o famoso livro de Bertrand Russell, os problemas da filosofia, agora numa versão renovada com introdução, tradução e notas de Desidério Murcho. Confesso que não tinha mais pegado neste livro desde que há muitos anos tinha comprado a tradução do António Sérgio. O livro nunca me tinha sido particularmente útil. Aproveitando a nova edição, voltei a pegar na obra. Na minha opinião não é uma introdução à filosofia de fácil trato. Não me parece, por exemplo, que seja aconselhável a alunos do secundário, mas em boa verdade devo dizer que é um livrinho muito estimulante, apesar de algumas passagens exigirem a paciência de termos de as reler sob pena de perdermos o fio à meada. Mas é, acima de tudo, um útil livro para professores, que podemos digerir, devagar, entrando no mundo da filosofia de modo talvez mais activo e intenso. Muitos dos problemas abordados já mereceram importantes avanços pela parte de filósofos contemporâneos de Russell. O próximo passo é a discussão dos problemas presentes na obra.
Bertrand Russell, Os problemas da filosofia, Ed 70, 2008