Só sei que não sei nada?
O livro está dividido em 30 capítulos, cada um deles referindo uma máxima de um filósofo e, no final de cada capítulo, vem um manual de instruções. Esta obra deve ler-se sempre tendo em atenção o lugar irónico com que, na vida, podemos usar a cultura filosófica. A máxima explorada de Aristóteles é a de que “todo o ser humano deseja por natureza saber”. Não é sem a tal ironia que, nas instruções de uso, os autores referem “Os médicos, os maestros, os cientistas, os psicólogos, os economistas confirmam-nos, dia após dia, com a sua prática profissional, a premissa contrária: toda a gente deseja por natureza não saber” (p.75). Prossegue: “Não queremos saber nem sequer os limites da nossa ignorância, não queremos saber nem o que não sabemos…., de que vamos viver, de que vamos morrer, o que desconhecemos, qual o estado da nossa saúde, a quantia disponível em saldo bancário, o tamanho do buraco na camada de ozono ou a importância da nossa neurose.” (p.75). Defendem os autores que despertar o leitor com uma boa dose de optimismo aristotélico é sempre recomendável, o mínimo para justificar a curiosidade, ainda que seja somente intelectual, uma espécie de, digo, evitar os excessos de uma euforia perpétua, na expressão de Pascal Bruckner.
Solo sé que no sé nada? resulta num descomplexado corolário de algumas das mais brilhantes prerrogativas da história da filosofia, para além de constituir uma pequena e bem contada história da filosofia, desde Platão, Séneca, Kant, Heidegger, Bertrand Russel ou Karl Popper.
Manuel Guell y Josep Muñoz, Solo sé que no sé nada?, 2ª ediç., Ariel, Barcelona, 2001