Aprender com os erros
Sempre gostei dos livros de Fernando Savater. É talvez o espanhol que mais se empenha na divulgação da filosofia junto de um público mais amplo. E fá-lo com sabedoria, bom humor e rigor, que é o que mais se deseja. Tenho uma série de livros dele, tanto em traduções como originais e reservo-lhes um carinho especial talvez porque Savater, apesar de não ser um filósofo da mais alta gama, é um filósofo que se empenha e muito para divulgar a filosofia e isso vale, por vezes, muito mais do que meia dúzia de bons filósofos. E isto porque não concebo a ideia de que haja bons filósofos sem bons divulgadores de filosofia. Além do mais um bom divulgador da filosofia não é um fulano que vende um produto e o publicita. È um filósofo que fala de modo não técnico para pessoas comuns compreenderem problemas complexos. Ao ler recentemente um livro que comprei há já uns anos, deparo-me com um excelente artigo sobre os problemas que afectavam a filosofia no ensino escolar em Espanha. Devíamos aprender com os erros, apesar que, pelo menos por cá e actualmente a realidade é um pouco mais grave. O esvaziamento das matérias nos programas de ensino não é um problema que afecte só a filosofia. A matemática, a história, o ensino da língua não andam melhor. Em muitos casos, como o da língua portuguesa andam até bem pior. O problema é que a filosofia é uma disciplina do desconhecimento geral do público e, por essa razão, por muitos considerada dispensável. Quem melhor que nós, da filosofia, para mostrar que as pessoas que assim pensam estão erradas?
"A filosofia refere-se à actividade central dos seres humanos enquanto tal e, portanto, nenhuma educação pode evitá-la, nem sequer ensiná-la como uma tarefa empreendida por outros e que pode ser admirada com a participação do educando. A história da filosofia é já filosofia, actividade filosófica ou torna-se incompreensível; mas a filosofia não pode provir da mera história, tendo antes de converter-se me biografia de quem se aproxima dela, sob pena de se reduzir a um pedantismo ocioso e artificial, isto é, a um repertório de respeitáveis tecnicismos. Aliás, é esse pedantismo o culpado, em boa medida, da secundarização actual da disciplina de filosofia nos currículos escolares."
Fernando Savater, Livre Mente, Relógio D`Água, trad de Ana Mafalda Tello, 2000