Médicos em Portugal
O post que escrevi sobre as médias de entrada nos cursos de medicina referia-se a um aspecto: que a medicina, enquanto ciência não tem nem mais nem menos valor que a física, química ou matemática e no conjunto dos saberes não existe qualquer razão para sobrevalorizar a medicina em relação à filosofia ou à história. Expliquei que a sobrevalorização prende-se com o lobby instalado da Ordem dos Médicos em Portugal, que superprotege a classe e o seu comércio e inflaciona de forma estúpida as médias de entrada nos cursos de medicina. Mas no meu post não me interessou tanto a questão comercial da coisa, mas somente esclarecer o leitor de que não existe qualquer respeito em relação à medicina que todo e qualquer outro saber organizado não mereça em igual ou maior proporção.
Rolando Almeida
Com efeito, nem de propósito, recentemente somos confrontados no nosso país com uma realidade: os médicos espanhóis regressam a casa, ao seu país de origem. Ora, membros do governo apareceram desde logo na TV a lamentar-se que deram formação com pós graduações a esses médicos e agora eles vão-se embora, com grande prejuízo para Estado português. Pois é, que pena! Mas este negócio interessa a alguém, no caso, aos médicos portugueses. Só que não existe coragem política para estragar o negócio da Ordem dos Médicos e desconfio que algum médico deixe de andar de Mercedes só para termos um melhor serviço nacional de saúde. Enquanto os médicos enriquecem, nós, o Estado, pagamos os seus luxos. A melhor medida a tomar desde já, que revelava coragem política, é fazer descer a média de entrada nos cursos de medicina. Não seria por aí que a qualidade dos médicos decrescia e o mercado na medicina seria muito mais versátil. Claro que este assunto nada tem a ver com a filosofia, pelo menos directamente, já que é responsável pela descaracterização social de muitos saberes. Mais vale mesmo regressar ao estritamente filosófico. Mas é uma questão de justiça.