Argumentos dedutivos e não-dedutivos - Uma correcção
Afirma-se por vezes que nos argumentos dedutivos se «parte do geral para o particular» e que nos argumentos não-dedutivos se parte do «particular para o geral». Isto é falso, como se vê nos exemplos seguintes:
1) Alguns filósofos são gregos.
Logo, alguns gregos são filósofos.
2) Todos os corvos observados até hoje são pretos.
Logo, o corvo do João é preto.
1 é um argumento dedutivo, e no entanto não parte do geral para o particular. Tanto a premissa como a conclusão são particulares. E 2 é um argumento não-dedutivo. No entanto, não parte do particular para o geral. A premissa é geral* e a conclusão particular.
*Ainda que se considere que a premissa é particular (porque declara que só alguns corvos – os observados – são pretos), estamos perante um argumento não-dedutivo que não «parte» do particular para o geral, dado que a conclusão é particular.
Desidério Murcho, O lugar da lógica na filosofia, Plátano, p.102